Antes e depois


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Ivete Kist (Foto: Fernanda Kochhann)

Nas competições em que brasileiros participam, a vibração dos torcedores chama atenção. Agora, na Copa do Mundo não é diferente. Nós não poupamos energia para incentivar nem para comemorar os resultados. Não se espere timidez da nossa parte. Sabemos nos entregar ao momento e isto é uma bela qualidade.

Bah! Nada de botar água no meu chopp. Não venha aí lembrar do que aconteceu com a cigarra da fábula de La Fontaine – aquela que teve de pedir o abrigo da formiga, quando o inverno chegou forte.

Ao elogiar o comportamento da torcida brasileira, não estamos sugerindo levar a vida no estilo da cigarra, só despreocupação e festa. Mas também não dá para elogiar o modelo da formiga. A formiga vive focada no trabalho e na poupança. Ela só faz guardar e, por mais que guarde, nunca guarda o suficiente. Acontece que entre o extremo da cigarra e o extremo da formiga cabe um mundo de possibilidades. Cabem também os brasileiros e a sua fórmula: “na hora do pega, vamos lá – na hora da festa… explode coração!”

Estou destacando esta boa característica nacional, para logo acrescentar que podemos crescer no contato com os outros. Quando culturas diferentes ficam próximas, como acontece em uma Copa, os contrastes aparecem mais. Olhando os outros, podemos fazer comparações. Como resposta, dá para imitar algumas coisas e rechaçar outras. Aliás, vale o mesmo para as amizades em geral. Ter amigos é tão importante por que, além de tudo, eles ajudam a notar que há outros jeitos de viver.

Nesta Copa, uma das sensações são os japoneses. Principalmente, por que eles deixam limpos os espaços, depois de usá-los.
Pensando bem, o comportamento dos japoneses é até óbvio. Se você encontra limpo um lugar e o usa, pode bem deixar nas mesmas condições para o seguinte usar.

Mas, para nós, isto chega como um fato surpreendente. Parece quase uma esquisitice. A gente nunca tinha pensado nisso a sério. O costume japonês passa longe dos nossos hábitos.

Nós fazemos diferente. Nós nos preocupamos com o lugar, antes de utilizá-lo. Não pensamos no depois. Principalmente, se houver visitas, nós nos desdobramos na preparação. Fazemos faxina, esfregamos e lustramos. Depois da festa, é diferente. Se ela aconteceu na nossa casa, é capaz de demorar bastante até darmos conta da bagunça. Se a festa aconteceu em espaço público, aí não temos preocupação nenhuma. Fique do jeito que ficar. Importante é que festa foi legal. Nós saímos bem faceiros e nem olhamos para trás.

O mesmo pensamento nos acompanha no uso dos banheiros, das praças e até da escola. Manter o asseio nem passa na cabeça. Certamente alguém virá para cuidar do estrago. Se não vier, paciência! Ou melhor, vai nos dar a chance de falar mal dos serviços de limpeza. Talvez até abra a chance de engrossar a voz contra o governo, do prefeito ao senador.

O problema é que essa gente não se puxa! – gostamos de dizer – ao falar dos outros.

 

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