Às vezes, só precisamos ter nosso sofrimento reconhecido

Jornalista, psicóloga e psicoterapeuta reflete sobre a necessidade de reconhecimento


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Um dia desses, minha filha estava com o nariz bastante congestionado por conta de uma rinite. Não havia dormido muito bem, e de manhã, percebi que estava menos disposta que de costume. Como era dia de Educação Física na escola, eu disse a ela que escreveria um bilhete para a professora explicando sua indisposição, para que ela a liberasse das atividades mais desgastantes. Ela aceitou minha sugestão e lá fomos nós.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Divulgação)

Ao chegar à escola, percebi que ela não apenas carregava o bilhete, ela o ostentava, quase como uma espécie de troféu. Então eu entendi que aquele papel contendo algumas palavras que ela ainda não conseguia ler teve um efeito importante: ela se sentiu compreendida e reconhecida em seu sofrimento. Era como se o bilhete lhe autorizasse a não dar tudo de si naquele dia. Ela não precisaria passar por cima da fragilidade do seu corpo para tentar agradar a professora, não precisaria correr, pular obstáculos, tentar ser mais rápida do que os colegas, ela não precisaria disputar espaço. Estaria livre para decidir o que fazer a partir de sua (in)disposição.

Isso me fez pensar nas tantas vezes em que nós, adultos, também gostaríamos de receber um bilhete desses. Pense comigo. Sabe aquele dia em que você não está legal, às vezes nem sabe por qual motivo? Imagine que nesse dia, alguém que lhe cuidasse percebesse seu mal-estar e dissesse assim: “espere aí, vou escrever um bilhete pro mundo”. E ao pegar o papel, você leria o seguinte: “Hoje minha filha (ou meu filho) vai andar no ritmo dela(e). Em vez de correr, talvez ela(e) opte por sentar e observar os outros correndo”.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista, psicóloga e psicoterapeuta

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