Em propósito do Dia do Professor

É que eu não sei ensinar a saber. O que eu posso é ajudar a aprender


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Ivete Kist (Foto: Maria Eduarda Ferrari)

Recebi uma solicitação inesperada. Era para ensinar a bordar.

– Minha nossa! Logo eu que bordo meio escondido, mais pelo prazer de fazer um agrado para as pessoas do meu coração! Mal e mal me viro com o estoque das antigas aulas do colégio São Miguel. Nem de longe sou perita no assunto.

Bom, mas… se é pra ensinar, eu ensino.

– É preciso arranjar qual material? – foi a pergunta que veio.
Respondi que seria pouca coisa. Necessário, necessário só mesmo querer aprender. Acrescentei que era melhor começar com um pano de prato do uso. Afinal, quem se importa com um bordado torto no pano, quando vai lidar na cozinha?

Mas o candidato a aluno queria outra coisa. Tinha a ideia de fazer um quadro para colocar na parede. Me mostrou o desenho: um ramalhete com flores de cores variadas. Uma lindeza de quadro!

Fiquei quieta. Deixei a proposta de molho, até compreender o mal-estar que eu estava sentindo.

Quando falei, disse que não ia dar. Procurasse outra pessoa para ajudar com bordados. Sorry.

É que eu não sei ensinar a saber.
O que eu posso é ajudar a aprender.

– Você que está lendo entendeu o que estou querendo dizer?

O modelo de bordado escolhido pelo candidato a aluno era perfeito para quem já sabe bordar. Não, para iniciante. Este tem de começar do começo: segurar uma agulha na mão. Compreender como os fios se põem na meada, como são separados, qual o melhor comprimento da linha, como passar a linha pelo buraco da agulha. Mais! Como se prende a linha no pano e como se arremata o trabalho. Ou seja, para aprender tem que colocar os andaimes, tem que treinar, tem que ensaiar, cair, levantar. O melhor resultado só chega depois.

Abraão Lincoln, que foi lenhador, disse uma vez: “Dêem-me seis horas para cortar uma árvore e eu passarei as quatro primeiras afiando o machado.”

Aprender é uma das grandes experiências da vida. É sensacional conseguir fazer algo novo. Só que aprender também pede tempo e suor. Às vezes, até, o sucesso depende da capacidade de aguentar o processo inicial.
As facilidades que a informática vem trazendo hoje em dia encorajam a gente a pensar que tudo é barbada: clic-clic-clic. A paciência ficou muito curta.

Antigamente se aceitava melhor que ninguém nasce sabendo.

Resumo da ópera: quando lhe oferecerem facilidades mil junto com um diploma, será prudente lembrar que… dizer o só o que as pessoas querem ouvir não deixa de ser uma forma de mentir.

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