Entidades do Vale do Taquari emitem carta aberta contra a retirada da ponte de ferro

Após sua instalação emergencial, estrutura precisará ser removida para a construção da ponte de mão dupla que tem prazo de entrega para setembro deste ano


0
Foto: Nícolas Horn

O Conselho Municipal de Política Cultural de Lajeado (CMPC), a Academia Literária do Vale do Taquari (Alivat), a Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), o Instituto Histórico e Geográfico do Vale do Taquari (IHGVT) e a Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Alto Taquari (Seavat) se juntaram e emitiram uma carta aberta à comunidade regional se posicionando contrários a retirada da Ponte de Ferro após a sua instalação.

O documento foi feito por conta do projeto da construção de uma ponte de mão dupla, que já teve sua licitação feita e terá a Medabil, de Nova Bassano, como responsável. Para acelerar a entrega desta travessia e baratear o custo, os pilares da estrutura da Ponte de Ferro serão utilizados para a construção desta nova ponte. O cronograma prevê a entrega até o mês de setembro.

Assim, a Ponte de Ferro, que está sendo construída emergencialmente por um grupo de empresários, precisaria ser removida para o andamento dos trabalhos.

Diante disso, no documento assinado pelas cinco entidades regionais destaca a necessidade de manter a ligação, uma vez que ela será restabelecida, e defende o monumento histórico da região, que foi construído em 1939. “Ao longo dos anos ela se tornou um verdadeiro marco na paisagem e símbolo regional, seja pela delicadeza de sua estrutura em treliças de aço, seja pelo belo pilar em pedra de cantaria, ou ainda por sua implantação na linda paisagem da foz do rio Forqueta no rio Taquari”, cita a carta.

No entendimento do grupo, ao invés da remoção, esta nova estrutura deverá ser construída ao lado da Ponte de Ferro. “Uma nova ponte ao lado da Ponte de Ferro é importante para o presente e para o futuro, pois amplia as possibilidades de transposição do rio, impedindo que outro evento venha a interromper totalmente as ligações viárias. O planejamento regional deve prever mais conectividade no Vale do Taquari”.

Por fim, o documento pede para que “as autoridades reveham a ideia de demolir a Ponte de Ferro e redirecionem o projeto para a construção de uma nova ponte em outro local, como era a ideia original apresentada pelo próprio poder público.”

Confira a nota na íntegra

“Carta aberta à comunidade do Vale do Taquari sobre a reconstrução da Ponte de Ferro

A ligação entre Lajeado e Arroio do Meio foi duramente comprometida pelas quedas das duas pontes que ligavam estas cidades e o Vale do Taquari. O colapso de um dos vãos da

Ponte de Ferro sobre o rio Forqueta na inundação de maio de 2024 causou tristeza e apreensão na comunidade dessas cidades e em toda a região. A Ponte de Ferro foi pioneira na ligação entre estes municípios vizinhos. Construída pelo governo do estado para substituir a travessia por balsa, sua inauguração em 1939 se deu com um grande evento. Ao longo dos anos ela se tornou um verdadeiro marco na paisagem e símbolo regional, seja pela delicadeza de sua estrutura em treliças de aço, seja pelo belo pilar em pedra de cantaria, ou ainda por sua implantação na linda paisagem da foz do rio Forqueta no rio Taquari. Com a construção da nova ponte de concreto da RS 130, a velha

Ponte de Ferro deixou de ser a principal ligação, mas manteve-se como alternativa e local de admiração para turistas e praticantes de esportes, que usavam suas estruturas para rapel, pêndulo e outras modalidades. Também foi cartão postal de incontáveis ensaios fotográficos e registros de ciclistas, aventureiros e turistas da região ou de fora daqui.

Essa ligação afetiva explica por que sua perda foi tão duramente sentida e a pronta reação, com o movimento “Todos pela Ponte”, para angariar fundos para a sua reconstrução.

Discutiu-se como reconstruir, iniciativas foram feitas para a recuperação do vão caído, o que infelizmente não foi possível. Por fim, lideranças locais uniram esforços e deram início à reconstrução, seguindo a forma original da estrutura de ferro, mantendo a originalidade.

Com os trabalhos adiantados, o novo vão está sendo construído e em poucos dias a estrutura já deve ser instalada, restabelecendo a tão desejada ligação com a volta do trânsito de veículos leves. Nesse meio tempo, o poder público anunciou a abertura de licitação para a construção de uma nova ponte naquele mesmo local, com estrutura de concreto, acarretando a demolição da estrutura de ferro.

Surgem então diversas interrogações e reflexões que devemos fazer:

▪ Há poucos meses foi divulgado um projeto de uma nova ponte ao lado da Ponte de Ferro, que manteria ela preservada. Entendemos que devem ser criadas mais alternativas de passagem, não substituir a atualmente existente. Uma nova ponte ao lado da Ponte de Ferro é importante para o presente e para o futuro, pois amplia as possibilidades de transposição do rio, impedindo que outro evento venha a interromper totalmente as ligações viárias. O planejamento regional deve prever mais conectividade no Vale do Taquari.

▪ A substituição da Ponte de Ferro pela nova acarreta novas interrupções no fluxo entre as cidades durante todo período de construção, justamente agora que voltaremos a conectar o Vale. A Ponte de Ferro e a ponte do exército vão servir de passagem emergencial enquanto as outras duas pontes de concreto estiverem sendo construídas.

▪ Não parece viável a construção de uma nova ponte de concreto utilizando o pilar e as cabeceiras de pedra existentes, tendo em vista o grande peso da estrutura de concreto com duas pistas e as cargas do tráfego adicional. O reaproveitamento da estrutura de pedra existente deve apresentar problemas no futuro, pelos tipos de esforços aplicados, exigindo reforços estruturais.

▪ A nova ponte com via dupla, para tráfego mais intenso, deve ser feita ao lado, a uma distância segura, de modo a preservar a estabilidade e a imagem da Ponte de Ferro. O afastamento deve considerar o alinhamento das pontes com as vias urbanas existente e a nova que terá que ser aberta. Também deve ser projetada em uma cota mais alta que a atual, para não ser vulnerável a futuras grandes inundações.

▪ A demolição da Ponte de Ferro apaga a nossa história, o patrimônio e os valores afetivos que toda população regional tem com a velha ponte, marco maior da nossa paisagem. Além disso, desconsidera todos esforços e recursos colocados pela população e inciativa privada que se uniram para o reerguimento da ponte. A população aplaude a iniciativa e clama pela manutenção da Ponte de Ferro. Por fim, entendemos que a construção de uma ponte não pode ser resolvida às pressas, mas a situação é de urgência e exige decisões rápidas. Tendo em vista os motivos acima citados, as entidades que subscrevem esta carta, solicitam às autoridades que revejam a ideia de demolir a Ponte de Ferro e redirecionem o projeto para a construção de uma nova ponte em outro local, como era a ideia original apresentada pelo próprio poder público.

Conselho Municipal de Política Cultural de Lajeado – CMPC – Setorial de Patrimônio

Histórico, Cultural e Natural de Lajeado

Academia Literária do Vale do Taquari – Alivat

Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales – Amturvales

Instituto Histórico e Geográfico do Vale do Taquari – IHGVT

Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Alto Taquari – Seavat”

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui