Escutar a dor do outro com respeito é uma forma de estender a mão

Quanto mais somos respeitados em nossos momentos difíceis, mais nos fortalecemos para encarar outras situações ainda mais desafiadoras


0
Dirce Becker Delwing (Foto: Fernanda Kochhann)

Cresci ouvindo que meu pai era doente dos nervos. Ele não gostava de sair de casa, ficava ansioso só de receber um convite para ir a algum lugar. Contudo, havia eventos dos quais participava por insistência da minha mãe. E, por mais que ele se esforçasse, deixava transparecer seu mal-estar. Ele devia fazer das tripas coração, como se diz, para simular que estava tudo bem. Isso porque muitas vezes ouvia frases do tipo:

“Tu precisas te ajudar”, “Calma, tu não podes ficar assim agora”, “Que absurdo tu ficares sentado num canto ao invés de te misturar com os convidados”.

Pessoas com sofrimentos psíquicos tantas vezes ouvem frases prontas que carregam um tom de desaprovação e julgamento, como se fosse fácil controlar as emoções. E, ao invés de ajudar, tais palavras contribuem para que o sujeito, além de já não estar bem, desenvolva sentimentos de culpa e vergonha pela situação em que se encontra. Por isso, ao invés de dizer frases que deixam a pessoa ainda mais pra baixo, podemos perguntar: Como eu posso te ajudar a lidar com isso?

Foto: Fernanda Kochhann

No livro “Toda ansiedade merece um abraço”, o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral dá um exemplo que é comum a todos nós. Pense numa criança que precisa viver a agonia de receber uma vacina: o medo e a dor da picada são inevitáveis. Ela pode ser deixada à revelia, sem apoio e, assim, se sentirá incompreendida diante da sua queixa. No entanto, se, nessa hora, tivermos um olhar amoroso e uma voz carinhosa, mostramos que ela não está sozinha.

Não temos o poder de impedir que a criança viva esse momento indesejável, afinal, tais protocolos fazem parte do cuidado com a saúde. Mas ela se recordará da nossa presença na próxima vez em que precisará tomar vacina. E isso vale para a vida adulta. Quanto mais somos respeitados em nossos momentos difíceis, mais nos fortalecemos para encarar outras situações ainda mais desafiadoras.E aqui entra o lugar da escuta. Escutar com respeito e afeto é dizer que a gente está junto, que a pessoa em sofrimento tem alguém que lhe estende a mão.

Texto por Dirce Becker Delwing, psicóloga e jornalista

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui