O pediatra e psicanalista Donald Winnicott escreveu que nenhum adulto é adulto o tempo todo. Isso porque, segundo ele, as pessoas não têm apenas sua própria idade, elas têm, em certa medida, todas as idades, ou nenhuma idade. Outro psicanalista, Contardo Calligaris, afirmou que numa psicanálise, descobre-se que a vida adulta é sempre menos adulta do que parece: ela é pilotada por restos e rastros da infância.
Assim, todos nós, independentemente de quantos aniversários já comemoramos, somos resultado de uma mistura do que vivemos quando bebês, crianças, adolescentes e adultos. A questão é que para o nosso inconsciente essas diferentes fases da vida não ficam organizadas cronologicamente, mas coexistem o tempo todo.
Para perceber isso, basta observar como nossas reações diante de uma mesma frustração podem ser tão diferentes. Tudo aquilo que acontece no momento presente se liga a restos infantis que vivem em nós e, portanto, provoca respostas muito distintas entre as pessoas.
E se nosso desenvolvimento psíquico não dá garantias de uma evolução contínua, deixando nossa criança interior sempre à espreita, nem por isso precisamos seguir infantilizados. Crescer é duro, mas recompensador.
Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga
