O que é mesmo que eu queria com estas chaves?

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência


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Foto: Freepik

Manhã de sábado, temperatura amena. Resolvo levantar mais cedo e levanto mesmo. Deus ajuda a quem madruga. Vou lavar o carro, deixar tinindo. Ao menos uma vez na vida, circular com o carro limpo. É hoje!

Passo a mão no molho de chaves e o tlin-tlin que fazem é um bom sinal: sai da frente que lá vou eu. Mas, puxa, olha só! Minha correspondência largada aí, um monte de envelopes por abrir. Ok, tenho de repassar esta pilha, pode haver alguma coisa urgente ou quem sabe uma novidade boa.. Coloco as chaves sobre a mesa e começo a abrir. Puxa! Tenho que pedir que deixem de enviar extratos pelo correio. Sempre esqueço de pedir. Vou separando.

Papéis para guardar, de um lado; papeis para descartar, do outro. Um escândalo o que se gasta nessas remessas e eu me mancando para solicitar o envio eletrônico. Faço isto num minuto e agora mesmo. Peço o envio eletrônico. Lixo, lixo com papeis sem serventia. Opa! A lixeira está estufada, transbordando… Então tá. Vou ensacar o lixo e aproveito para levar lá fora quando sair de casa. Ajeito a papelada sobre a mesa. Depois eu guardo. Passo na cozinha com a lixeira cheia.

No balcão da pia, belo e formoso, o refrigerante que comecei a tomar ontem de noite. O refrigerante tem de voltar pra geladeira. Não se deve desperdiçar nada nesta vida, muito menos uma Fruki Bergamota. Organização é tudo. Abro a geladeira e fico chateada de ver que o jarro de água está vazio de novo. Que coisa! Dou meia volta. Primeiro, encher o jarro. Ah! Me caem na vista as flores quase murchas bem ali do lado. Coitadas, é melhor aliviar a sede destas flores que larguei aí sem misericórdia. Ingratidão pura, ganho flores e me esqueço de botar no vaso! Deixo o jarro no balcão, abro a torneira. Oba! Meus óculos de sol! Bem aqui na frente. Estava procurando por eles a semana toda. É melhor guardá-los logo. Colocar direitinho e já na minha bolsa. Um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar. Onde é que ficou a bolsa? Deve estar no quarto. Um pulinho até o quarto e passo na frente do computador. Não custa dar uma espiada nos emails. Vou abrindo a tela e enquanto espero – time is money – ligo o rádio. Acorda, Rio Grande! O Paulo Rogério atualiza a previsão do tempo. Oba! Hoje teremos tempo bom. O friozinho continua, mas vem o sol. Ah! Uma fila de emails na caixa de entrada. Vai ver que a metade é lixo aqui também. O Facebook me avisa que um amigo está de aniversário. Tenho de escrever pra ele. Quase que esquecia do aniversário. Que mancada! Confirmação de uma reunião da Academia. Uau! Quantos documentos para ler!

O celular toca. Quem será a esta hora? Ou é o interfone?

– O que era mesmo que eu queria fazer?

Um monte de papéis pra descartar; a lixeira cheia; óculos de sol na mão; vaso com flores murchas; um refrigerante sobre a pia; a geladeira aberta; torneira correndo a toda; emails esperando por resposta; o rádio gritando propagandas; campainha a mil. Eu não sei onde pegar primeiro. Então dou com um molho de chaves bem na minha frente. Chaves? O que é mesmo que eu queria com estas chaves?

P.S. Este texto é inspirado em outro, que circulava anônimo na internet. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

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