O que o processo de montagem de um palco para shows pode nos ensinar

A convivência com a Banda Rosa’s me ensina que não podemos tratar com desimportância nenhuma das etapas de preparação de um espetáculo


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Foto: Dirce Becker Delwing

Já faz bastante tempo que desenvolvo um projeto com a Banda Rosa’s. Percorremos o estado fazendo palestras-show. Os músicos e a equipe técnica viajam na mesma van. Por isso, todos estão juntos na preparação do palco e na montagem dos equipamentos. Nessa hora, tem algo que sempre chama a minha atenção: a forma cuidadosa e caprichosa como são desembalados e, ao término do show, embalados todos materiais do cenário. Cabos, fios, lâmpadas, instrumentos musicais, tapetes, banners, além de uma grande variedade de ferramentas. Cada item é armazenado em compartimentos separados por tipos.

De tanto observar o trabalho da equipe técnica, concluí que eles possuem um roteiro muito bem estruturado, algo como um protocolo de execução. Seguem sempre a mesma sequência de tarefas, apenas adaptando as arrumações conforme a estrutura física de cada local. Um show dura, em média, duas horas e o trabalho de montagem e desmontagem do palco requer, no mínimo, a metade desse tempo. Quarenta minutos para montar a estrutura e, no final, mais quarenta minutos para desmontar. Se não tivessem zelo, paciência e atenção na hora de guardar o material, muita coisa se perderia, ou mesmo os materiais poderiam ser misturados, o que atrasaria a preparação do próximo show. Disciplina é liberdade, já cantava Renato Russo.

O exemplo que refiro pode ser usado para refletirmos sobre várias questões do nosso cotidiano. Pense nas interações que mantemos com os outros. Muitas vezes, caprichamos no começo da relação, e, com o passar do tempo, vamos ficando desleixados. Nos tornamos impacientes, menos atenciosos e até displicentes.

Agora, vamos pensar num procedimento que passamos a adotar na pandemia e que foi fundamental no controle da infecção pelo vírus da covid: o uso de álcool em gel.

Em todos os lugares, o produto estava disponível para higienização das mãos. Lembro de pessoas me dizendo que chegavam a sentir aspereza na pele por conta dos cuidados intensos e contínuos. Passados dois anos, onde tu ainda encontras álcool em gel disponível para a população? Por que estamos nos omitindo a continuar um protocolo de prevenção que deu certo?

A convivência com a Banda Rosa’s me ensina que não podemos tratar com desimportância nenhuma das etapas de preparação de um espetáculo. E isso também vale para o show da vida de cada um de nós. Como escreveu Lya Luft, o que nos acontece é resultado das nossas escolhas, mas também das nossas omissões.

Texto por Dirce Becker Delwing, jornalista, psicóloga e psicanalista clínica 


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