Oportunidades e privilégios

O mundo sempre girou ao seu redor, já passou do tempo de entender que isso não é normal


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Foto: Freepik

Pais ricos, boas escolas, portas abertas, padrinhos, contatos e conhecidos. Essa é a realidade da maior parte da população branca brasileira. E essas mesmas pessoas que cresceram nos conhecidos “berços de ouro” julgam sempre que podem, e tentam desmerecer a luta e pequenas conquistas daqueles que saíram de um lugar bem inferior e menos favorecido, inclusive de outras pessoas brancas, que apesar das dificuldades, ascendem muito mais facilmente que pessoas negras, inclusive com menos formações.

“Eu não ganhei nada de mão beijada” foi uma frase que me atravessou na última semana. Como uma forma de repudiar as ações afirmativas e políticas de incentivo a população negra, na tentativa de justificar que tudo que conquistou foi com as próprias “forças” e iniciativas. Reforçando que as pessoas ainda acreditam no mito da democracia racial: que afirma que todos somos iguais, e temos as mesmas oportunidades, basta nos esforçarmos.

E esse tipo de discurso me surpreende porque parece que o senso comum está tão contaminado que não percebe, que ninguém ganha nada de mãos beijadas, a não ser que seja branco. A pessoa negra, que por exemplo ingressa em uma instituição de ensino superior, como cotista, estuda, presta um vestibular, concorre com outras pessoas negras, que podem estar igualmente ou mais bem preparadas do que ela. Mas não desproporcionalmente como se disputassem uma vaga na ampla concorrência, onde a maior parte de candidatos é branca, estudou em escolas particulares, ou teve acesso a algum curso preparatório para prestar o
vestibular. Depois que aprovado, o aluno cotista não vai até a universidade apenas para receber seu diploma, ele faz provas, cumpre a grade curricular, normalmente concilia a jornada de estudo, com a jornada de trabalho. E ainda sofre racismo, e precisa ser forte para não desistir do seu sonho, pela perversidade do outro!

Então é inadmissível que possamos aceitar que uma pessoa com acesso a informação, é cercada de todos os seus privilégios brancos, possa irresponsavelmente gritar aos quatro ventos, que é mais merecedora do poder que tem, do que qualquer outra pessoa!

Outra frase que me atravessou, foi: já passamos do tempo de rebater ciência com opinião, ou seja, se me apresentarem dados científicos que comprovem que todos temos as mesmas condições de conquistar as mesmas coisas e que a sociedade é igualitária e justa em todos os seus setores, eu cientificamente iniciarei uma discussão sobre o assunto. Mas se for uma mera opinião, de uma pessoa que vive um recorte da realidade e se nega a sair da sua bolha, para não perceber o quão preconceituosa ela é, eu me nego a realizar qualquer tipo de debate. Por isso, outra vez, bato na mesma tecla, que todos possamos buscar conhecimento e letramento racial, para que não passemos vergonha reverberando um discurso
racista, por simples preguiça de buscar conhecimento!

Então em comemoração ao primeiro ano estrutura preta, deixo uma lista de autores e livros, que podem ser usados na construção da sua consciência racial e social:
1. O Lugar do negro – Lélia Gonzalex
2. O beneplácito da desigualdade – Giralda Seyferth
3. The African orgin of civilization – Cheikh Anta Diop
4. O genocídio do negro brasileiro – Abdias Nascimento
5. Pequeno manual antirracista – Djamila Ribeiro
6. A democracia da abolição – Angela Davis
7. Caminhos trilhados na luta antirracista – Zélia Amador de Deus
8. Lugar de fala – Djamila Ribeiro
9. Escrvidão, vol. I e II – Laurentino Gomes
10. O movimento negro educador – Nilma Lino Gomes
11. Negritude – Kabengele Munanga
12. A liberdade é uma luta constante – Angela Davis
13. Estarão as prisões obsoletas – Angela Davis
14. Racismo linguístico – Gabriel Nascimento
15. Torto arado – Itamar Vieira Junior
16. Vozes negras em comunicação – Org. Laura Guimarães Corrêa
17. O negro no Brasil de hoje – Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes
18. Mulheres negras inspiradoras – Moreira de Acopiara
19. Nos bastidores – trinta anos escrava, quatro anos na casa branca –
Elizabeth Keckley
20. O pacto da branquitude – Cida Bento

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