Os fertilizantes, a ambiguidade de Bolsonaro com Putin e o posicionamento do Brasil na Guerra da Ucrânia

Entenda como o Brasil pode diminuir a dependência dos fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia com um projeto que está no Congresso para exploração de minerais. Mas, para isso, tem que dobrar resistência dos ambientalistas e não se curvar a ONGs estrangeiras


0
Foto: Ilustrativa/Divulgação

A posição do governo Brasileiro, especialmente a postura ambígua do presidente Jair Bolsonaro sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin, causa incômodo em Brasília e faz com que o Brasil seja cobrado na arena internacional pelas democracias liberais do Ocidente a condenar, sem meias palavras, a violação da soberania ucraniana sobre seu território pelo exército opressor de uma das maiores potências militares do mundo.

Saudosista do antigo Império Russo, Vladimir Putin está no poder no Kremlin há mais de duas décadas. Ele é um nacionalista ortodoxo antiliberal que dirige um Estado autocrático e uma economia alicerçada em poderosos oligarcas. Putin tem pavor dos valores do Ocidente chegando perto do território russo via Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Putin sonha em retomar o poder e a influência que a Rússia tinha e que foi perdido com o desmembramento da União Soviética. Hoje, muitos desses Estados nacionais são membros da aliança militar da Otan e por ela são protegidos. Por outro lado, os ucranianos criaram forte sentimento nacional de autodeterminação desde que conquistaram sua independência, em 1991. Putin desconsiderou esse fator, e não contava com a bravura do presidente Volodymyr Zelensky e de seu povo, que ganha cada vez mais apoio e solidariedade ao redor do mundo.

Em meio a isso, o presidente brasileiro foi muito criticado ao ir à Rússia pouco antes da eclosão da guerra. Era uma agenda marcada antes mesmo do conflito, diga-se de passagem, para tratar de acordos comerciais. Em Moscou, o governo brasileiro disse que o conflito não foi tratado diretamente entre os dois presidentes, mas no último domingo, Bolsonaro disse que abordou a situação com Putin “por duas horas”.

O fato é que o líder brasileiro reluta em condenar a Rússia e a irritar Putin pela dependência que o país tem dos fertilizantes russos e da Bielorrússia, uma ditadura satélite de Moscou. Por isso Bolsonaro chega a dizer que não há genocídio na Ucrânia por parte dos soldados russos, e nem situação calamitosa, e que o Brasil está oficialmente neutro. Ele desautorizou a posição do vice, general Mourão, a favor das democracias ocidentais, Europa, Reino Unido e Estados Unidos.

Isolado entre os grandes, o governo brasileiro é pressionado para rever a sua posição. Os candidatos da chamada “terceira via” nas eleições de outubro assinaram uma carta conjunta pedindo que o Brasil saia da zona de neutralidade e deixe de lado o discurso complacente com Putin e defenda mais a Ucrânia. Seria adotar a adequada linha da diplomacia brasileira nas Nações Unidas, em Nova York.

O que leva Bolsonaro a essa ambiguidade? Além de eventuais questões ideológicas, o Palácio do Planalto tem receio quanto à interrupção do fornecimento de fertilizantes russos. Acontece que, com os níveis das sanções econômicas aplicadas à Rússia, não vai chegar insumo agrícola vindo de lá de igual forma. Os países ocidentais impuseram pesadas sanções comerciais, e as empresas estão retirando seus negócios, mesmo com a importância do gás e do petróleo russo para a Europa. Em represália à invasão da Ucrânia, as grandes petroleiras do mundo cancelaram contratos e encerraram operações na Rússia. Transportadoras também não operam mais por lá. O conflito precipitou uma reorganização forçada das cadeias globais, e o Brasil, separado da Europa por um oceano de distância, também pode ser livre e criativo para escapar da esfera de influência e dependência de um país autocrático e instável, agora isolado do mundo, para oferta de fertilizantes. Se a Europa, que depende de 40% do gás russo e está a um passo da região do conflito, tomou a corajosa decisão de sancionar a invasão e os crimes contra o ordenamento jurídico internacional, por que haveríamos de ficar impavidamente neutros frente aos ataques militares de uma ditadura autocrática contra uma nação e civis indefesos?

Um marco na história, o conflito militar na Europa fez com que o Ocidente revesse muito de seu pensamento no pós-Guerra Fria. A Europa, dependente do gás natural russo, busca acelerar projetos que lhe deem mais segurança e autossuficiência energética. E o Brasil, o que pode fazer para que não fique refém de russos e da Bielorrúsia, de onde vêm 96% dos fertilizantes utilizados?

É preciso rever a legislação e a política de exploração de minerais, e não ter medo de avançar a pauta em meio à gritaria. Anos atrás, sob influência massiva de ONGs estrangeiras, houve uma profusão de criação de reservas indígenas sobre reservas minerais brasileiras. São terras em que foram descobertas grandes quantidade de potássio, como na foz do Rio Madeira, na Amazônia, onde há interesse por parte de uma empresa canadense de instalar um complexo de minério, a um investimento de R$ 2,3 bilhões, capaz de resolver 30% da demanda brasileira em minerais.

Hoje se entende quais eram os reais interesses estrangeiros, capitaneados por ONGs supostamente benfeitoras: na verdade, garantir a nossa dependência e enterrar nossas possibilidades de autossuficiência. Para isso, acentuou-se a disputa entre índios e ambientalistas de um lado, e a agenda de desenvolvimento econômico, de outro. O fato é que, com bons projetos, dá para ser ambientalmente sustentável e economicamente rentável. Não dá para interditar o bom debate.

O Brasil precisa aprovar um projeto de lei que está em discussão no Congresso que possibilita a exploração de minerais nas áreas indígenas demarcadas. Com regulação e controles ambientais adequados, sem dispensar a proteção aos povos indígenas, não ficaríamos a mercê de outros países sendo que temos enorme potencial aqui. O Brasil não ficaria mais sujeito aos fertilizantes russos e bielorrusos como atualmente. Será mais segurança alimentar no Brasil e no mundo, já que somos um dos maiores exportadores agrícolas. O país terá mais riquezas para explorar, com potencial econômico para o desenvolvimento social. Tudo com ajustes legislativos dos quais o Parlamento não pode se furtar. De quebra, o Brasil não ficar nessa situação embaraçosa internacional com Putin.

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui