Os pequenos sinais que a vida nos dá

Me diga se não é extremamente confortável ser acolhido quando você não está bem?!


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Dirce Becker Delwing (Foto: Fernanda Kochhann)

Passei horas escrevendo uma crônica para apresentar no quadro “Páginas Cotidianas” desta sexta-feira, mas, na hora de copiar o texto do celular para o tablet, por alguma razão, apaguei boa parte das reflexões que havia feito. Nessa hora, eu tinha duas possibilidades. Poderia reescrever tudo, o que não seria tão demorado, já que sabia a sequência das ideias quase de cor. Ou, procuraria algo pra dizer entre as crônicas que já apresentei no ar, na Rádio Independente. Como gosto de ouvir os pequenos sinais que a vida dá, entendi que deveria optar por reforçar algo que já havia falado em outra ocasião. A resposta plausível que encontrei é de que aquilo que vou dizer talvez deva ser ouvido por alguém no dia de hoje. Seguindo a mesma linha de raciocínio, optei por usar um dos primeiros textos que apareceu no meu arquivo de crônicas. A reflexão, publicada a seguir, aborda a importância de ouvir o outro com respeito e afeto.

Nossas queixas desejam espectadores. Quando nós nos queixamos, queremos gerar compaixão no outro. Buscamos companhia para o nosso sofrimento. E isso começa na mais tenra idade. A criança chora e, quando percebe que está sozinha, por vezes, até diminui a intensidade do choro. Quando lamentamos nossas dores, sofrimentos e faltas de sorte queremos que o outro tenha empatia por nós, que, naquele momento, esqueça das suas próprias mazelas. Acontece que nem sempre é fácil lidar com as reclamações alheias. Isso exige, antes de tudo, que você deixe de olhar para si e se disponha a escutar o outro.

Há aquela pessoa que, ao invés de dar crédito àquilo que o outro diz, começa a dizer que já teve sofrimento de maior intensidade. Com isso, ela acredita que consegue neutralizar a dor do outro, é como se ele tivesse que se conformar diante daquilo que está sentindo porque, afinal, o outro já sentiu coisa pior. É decepcionante estar com alguém que não consegue ouvir uma queixa sem contar vivências semelhantes. Me diga se não é extremamente confortável ser acolhido quando você não está bem?! A principal coisa que você quer é ter plateia para lhe fazer companhia. O outro não precisa dizer nada. Basta que olhe para dentro dos seus olhos com respeito e que, vez por outra, faça “sim” com a cabeça para sinalizar que está “todo ouvidos” diante necessidade que você tem de traduzir em palavras aquilo que dói.

Texto por Dirce Becker Delwing, jornalista e psicóloga

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