Ostentação do poder e sentimento de inclusão dos servos: a lógica das pirâmides permanece até hoje

Milhares de pessoas gastaram sua força e sua vida para garantir a glória e o bem-estar de outro homem


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Ivete Kist (Foto: Nícolas Horn)

Estou recém voltando de uma viagem ao Egito e trago pano para muita manga. Como fazem todos os que vão para lá, também visitei as pirâmides. Deixar de fazer isso seria o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa. E posso testemunhar: as pirâmides são ainda maiores e mais impressionantes do que a gente imagina a partir das fotografias.

As pirâmides mais famosas ficam no Planalto de Gizé, a 18 Km da cidade do Cairo, que é a capital do Egito. O impacto de estar lá, caminhando naquele local é esmagador. A gente se sente ao mesmo tempo insignificante e maior face o significado das construções. Voltam as memórias das aulas de história e da frase de Napoleão (também ele impressionado com o cenário) bradando para o seu exército: “Soldados, do alto destas pirâmides 40 séculos vos contemplam!”

A importância das pirâmides e de todos os tesouros que continuam a ser descobertos no Egito têm tal volume que até deram origem a um ramo da ciência chamado de Egiptologia.

Interessante é constatar que, por mais que a Egiptologia avance, ainda não estabeleceu consenso sobre os processos utilizados para erguer as pirâmides. Sabe-se que a mais famosa de todas, a de Quéops, levou 25 anos para ser construída e que envolveu dez mil trabalhadores. Foram fixados dois milhões de blocos de pedra, sendo que cada um deles pesava de duas a dez toneladas. Como as pedras puderam ser transportados pelo deserto até o local da construção? Como as pedras foram empilhadas só com a força dos músculos e dos instrumentos rudimentares da época? Há muitas perguntas que ainda esperam por resposta…

Já na época da construção, as pirâmides serviam para ostentar o poder do faraó que as mandava edificar e assim permanecem até hoje. Mas elas também serviam de tumba mortuária e garantiam a passagem para a imortalidade. Das profundezas das imensas pirâmides, o faraó seria transportado para uma outra dimensão após sua morte. Mesmo não sendo enterrados lá, os milhares de operários da construção acreditavam estar participando do mesmo projeto e isto dava sentido ao esforço que faziam.
Ou seja, milhares de pessoas gastaram sua força e sua vida para garantir a glória e o bem-estar de outro homem. Milhares se sentiram participantes, embora não participassem de benefício nenhum, além de estar ali, vertendo suor.

Será que a mesma lógica não continuaria em pleno vigor até hoje?

Foi exatamente isso que pensei ao percorrer o luxuoso bairro de Zamalek, na parte nova do Cairo. O contraste com o centro histórico, onde eu estava hospedada, é violento. As construções do centro histórico lembram uma favela, o lixo é onipresente e o trânsito caótico. Em Zamalek, no entanto, as mansões são esplêndidas. Estão rodeadas de jardins e próximas de shoppings colossais. Desnecessário dizer que quem construiu Zamalek foram igualmente operários que vivem em situação miserável.

De um outro jeito, não seriam os mesmos homens construindo as mesmas pirâmides ainda hoje em dia?

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