Comunicação: é necessário ouvir, para falar

Não é possível comunicar-se sem estabelecer trocas


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Ivete Kist (Foto: Fernanda Kochhann)

Estou voltando de viagem pelo “velho mundo”. Foram muitos dias em contato com paisagens, linguagens, sabores/saberes estranhos. Uma experiência assim deixa impressões fortes. O que resulta mais vivo para mim é a percepção de que vivemos em um planeta maravilhosamente diverso e variado. Habitamos uma verdadeira “torre de Babel”.

Para circular livremente e para bem aproveitar toda a riqueza existente, faz-se necessário passaporte. O passaporte atende por um nome. O nome é “comunicação”.

Se eu fosse recomendar um conteúdo só, um conteúdo indispensável para desenvolver com as crianças, que serão os cidadãos do mundo no futuro, falaria em investir mais em comunicação. A tarefa passa longe de ser simples. Não se resume a ensinar a falar bem. Vai além, igualmente, de conhecer línguas estrangeiras – e olha que só isso já demanda um esforço considerável. Comunicar-se tem o sentido de “conversar”, em vez de falar. Tem a ver com estabelecer trocas. Significa estar preparado para ouvir, para falar, perguntar, responder, sugerir, revisar ideias, formular e reformular conceitos, em um movimento que não se encerra nunca. A comunicação – como a entendo aqui – é um processo dinâmico e permanente.

Ainda tem mais. Não é possível comunicar-se, estabelecer trocas, sem ter farinha no saco. Pense na permuta de bolinhas de gude que os meninos fazem. Quem quer trocar uma bolita especial por uma opaca e trincada? Cada parceiro tem que colocar algo bom sobre a mesa, algo que possa atrair a atenção. É bem por isso que as crianças devem aprender tudo o que puderem, sobre a sua língua, sobre a cultura e a história, a realidade do seu país e do mundo. Devem aprender música, devem desenvolver-se nos esportes, nas ciências e no pensamento, devem aproximar-se da arte. Assim, elas se preparam para o encontro com os outros. Para contribuir e para receber.

Achar formas de desenvolver habilidades de comunicacão pode ser um importante conteúdo formativo. Estou aqui pensando em educar para a cooperação. Algo muito diferente dos antigos “trabalhos em grupo”, em que simplesmente se juntavam retalhos. Antigamente, nos trabalhos de grupo dividiam-se as tarefas. Cada um ia para o seu lado e tratava da parte que lhe coubera. Parecia haver funcionamento de grupo, mas era jogo de cena. O resultado consistia na justaposição de segmentos. Interação mesmo não havia.

O cidadão do mundo deve estar aberto para aprender com os outros. Deve querer conhecer, em vez de fugir das diferenças e dos diferentes. Para isso, para exercer a comunicação, cabe treinar a flexibilidade. Passar longe de o todo tipo de preconceito.

Ou seja, quem quiser cidadania plena no mundo moderno deve melhorar a comunicação. Talvez você pense que eu tiro do sério a conversa, mas vou lembrar de Abelardo Barbosa, o saudoso Chacrinha, que dizia: “Quem não se comunica se trumbica”.

Ele estava coberto de razão!

Texto por Ivete Kist, professora e escritora

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