Uma cadeira contempla a paisagem

Se não pudermos alterar a paisagem, que possamos alterar nosso olhar sobre ela, criar novos sentidos


0

Faz uns dias que essa cadeira chamou minha atenção na paisagem que vejo quando faço minhas caminhadas. Num primeiro momento, me incomodei com ela, talvez porque estivesse junto a latas e garrafas de cerveja vazias. Pareceu que ela pertencia àquele lixo atirado na natureza.

Passados alguns dias, comecei a achar interessante a cadeira ali. Cada vez que olho pra ela imagino coisas. Fico tentando adivinhar quem a colocou ali, em que contexto, com qual objetivo. Vou criando diferentes narrativas.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

A questão é que já me acostumei à cadeira naquele lugar, e hoje acho a cena super poética. Uma cadeira vazia em meio ao nada, num lugar inacessível (ela está próxima à calçada de passeio, mas numa área particular, cercada e trancada com cadeado).

Isso me fez pensar pelo menos duas coisas. A primeira foi sobre nossa alta capacidade de adaptação. O que antes me incomodava já se tornou parte do cotidiano. E é assim com tanta coisa na vida! O que pode ser bom e ruim.

A segunda diz respeito ao nosso olhar para o mundo. Num dia, achei a cadeira feia; ela atrapalhava o layout do lugar, não fazia o menor sentido ali. No outro dia, ela ressurge em minha mente repleta de sentido. O que havia mudado se não meu olhar sobre ela?

É aquela velha questão: se não pudermos alterar a paisagem, que possamos alterar nosso olhar sobre ela, criar novos sentidos. Ou mudar de paisagem, né?

Um bom ano pra você!

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui