Uma noite, Markovitch

Quem disse que ao embarcar num livro a gente não vive a emoção de viajar ao país das maravilhas?


0
Foto: Reprodução / TodaviaLivros

Acabo de ler um livro impressionante. Trata-se de Uma noite, Marcovitch. A autora é uma psicóloga israelense, cujo nome nem me atrevo a pronunciar: Ayelet Gundar-Goshen.

A história se passa em Israel. Começa antes da 2ª. Guerra Mundial, quando Israel tentava se estruturar como país independente e lutava contra a escassez de população. O pequeno número de mulheres era a barreira principal. Várias estratégias eram empregadas na tentativa de superar o problema.

Aí é que entra o personagem central, o tal de Markovitch, que dá título ao livro. Ele trabalha como agricultor e pega em armas para defender o território, sempre que necessário. Marcovitch é muito comprometido com a nova pátria, encara as empreitadas mais arriscadas sem pestanejar. Ele é um “soldados do partido” – nós diríamos hoje. Não admira, por isso, que venha a integrar um grupo de 30 homens que partem com destino à Europa para se casar com moças judias. O casamento confere às moças o direito de deixar legalmente a Alemanha, onde a perseguição aos judeus já estava numa escalada. Para as mulheres aquele arranjo representava a chance de fugir à ameaça do Nazismo, além da oportunidade de começar uma vida nova.

Os homens e mulheres envolvidos no trato não se conhecem. Mas todos sabem muito bem qual é a combinação: os pares são juntados aleatoriamente e se casam algumas horas antes de embarcar no navio que os levará a Israel. Durante a viagem, sequer conversam. Assim que colocam o pé em terra firme, um rabino os espera para presidir a cerimônia de divórcio e cada um vai para o seu lado.

Markovitch não é um homem bonito, ele não se destaca em nenhum quesito físico. Mas a sorte o surpreende. A ele cabe em casamento a mais bela mulher que ele jamais vira. Ela é simplesmente deslumbrante e todos os companheiros reconhecem isso. Provavelmente, muitos começam a fazer planos de se aproximar dela, logo que terminar a cerimônia do divórcio em Israel, na chegada.

Vem então a cena da cerimônia do divórcio.

Marcovitch dá um jeito de ficar por último. Quando chega na vez, ele se recusa a assinar o divórcio. Simplesmente recusa. A moça fica indignada. O rabino fica indignado. Os rapazes do grupo ficam indignados. O presidente da organização que os mandou à Europa fica indignado. Nada. Marcovitch está inamovível. Ele não vai se divorciar. Não, ele não vai. Não vai.
A pressão sobre Marcovitch continua. Chega a ponto de um grupo ser contratado para bater em Marcovitch. Marcovitch suporta surras sistemáticas. Vive esfolado e dolorido. Mas permanece firme. Firme como um boi empacado. Ele não concede o divórcio.

Bom, o livro tem 400 páginas. Isso que contei ocupa, talvez, as primeiras cem. Não vou contar adiante, pra não lhe tirar o prazer da leitura.

Quem disse que ao embarcar num livro a gente não vive a emoção de viajar ao país das maravilhas?

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui