A diáspora é um processo de alteração de condição de habitação, a partir do
deslocamento e dispersão de uma população, majoritariamente, contra a vontade desse povo. No caso da travessia dos povos africanos, têm-se dados de que 5 milhões de africanos foram destinados ao Brasil, sendo as primeiras notícias de chegada de africanos em 1535.
Oriundos de regiões que hoje são Angola, Benin, Senegal, Nigéria, Moçambique, entre outros, as viagens podiam durar de 40 a 60 dias, dependendo do porto de onde partia o navio e onde ele iria atracar no Brasil. Além da alteração de ambiente, essa migração forçada, afastava esses povos de sua cultura, sua religiosidade, sua história, porque os retirava de seu lugar de pertencimento, sem perspectiva de retorno, como hoje é relembrado pela “Porta do Não Retorno”, monumento criado pela Unesco para relembrar multidões que daquele continente partiram.
Assim, para serem trazidos para o Brasil, quem criava a sua “identidade” eram os traficantes, com base no porto de embarque, ou na região de
onde foram retirados, anulando ainda mais, as características daquela pessoa, e sendo determinante para o local onde seriam alocadas quando chegados no Brasil. Além desse desprendimento com a terra, as condições que essas pessoas foram condicionadas no Brasil, também deixaram muitas marcas, mas essa série de negligências fizeram com que a população buscasse se conectar e se encontrar para não perderem sua essência, apesar de todo o sofrimento que estavam passando, e assim, surgiram religiões de matriz africana, danças como a capoeira, musicalidade como o samba, a música popular brasileira, culinárias com influências e ingredientes africanos, penteados e vestimentas também ligadas ao que trouxeram da África.
Também através dessa perda identitária, surgiam novas nomenclaturas, como os “crioulos” que eram escravizados, já nascidos na América, e pós-escravidão, os povos afrodescendentes, que permaneceram no Brasil, e
poucos que retornaram para a África, depois da abolição da escravidão quando foram libertos. Então pode-se citar Laurentino Gomes, e dizer que “O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África.”
Considerando que a cada europeu que chegava no Brasil, trazia consigo pelo menos quatro negros oriundos da África, resultando na condição social que temos hoje, onde 54% da população do Brasil é de pessoas negras, mesmo contra a vontade dos colonizadores, que tentaram de várias formas e ainda tentam eliminar a população negra, que segue desde o tempo da travessia, até os dias atuais, lutando e resistindo!
Texto por Nadini da Silva, advogada e mestranda em Ambiente e Desenvolvimento
