A expressão “luta antirracista” tem se difundido com muita força nos últimos anos. Porque já ficou esclarecido que no contexto que estamos inseridos, no Brasil e no mundo, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista para que um dia possamos efetivamente falar em direitos iguais, erradicação da discriminação, inclusão e representatividade. E essa obrigação não se aplica apenas às pessoas pretas, que já passam por lutas diárias, para serem respeitadas, legitimadas e validadas. Mas precisa ser exercida também pela população branca, que desfrutou e ainda hoje desfruta de muitos privilégios que foram constituídos e gerados através da exploração do povo preto.
Quando falo em exploração, não me refiro apenas ao período escravagista, por mais que este tenha sido o período mais doloroso, sem sombra de dúvida. Mas falo dos acontecimentos rotineiros: dos casos de racismo contra o Vini Jr., dos casos de racismo contra a filha de Beyoncé, dos inúmeros casos de racismo registrados no Rio de Janeiro, do caso do Seu Jorge, que aconteceu aqui no nosso Estado, do caso de ameaça, registrado aqui na nossa cidade. Por isso, é importante ser antirracista, porque o racismo bate a nossa porta todos os dias! Esperando que um dia estejamos enfraquecidos, ou cansados, e que possamos ser derrubados.
Mas se contarmos com aliados, esse dia não vai chegar! Não vamos ser derrotados se todos entenderem e reverberarem, o discurso de que não somos todos iguais, e nem precisamos ser, para termos os mesmos direitos, que o que nos torna belos, são as diferenças e pluralidades de cada um. E outro ponto crucial é que as pessoas brancas compreendam que nenhum preto quer o que é delas, que não queremos que elas deixem de ter seus objetivos alcançados também, o que queremos e ter uma oportunidade de lutar por esse mesmo objetivo ou sonho, sem sermos humilhados, ou mortos. E por isso, as políticas e ações afirmativas são tão importantes, para que um dia possamos “disputar” algo de forma saudável e em par de igualdade, porque ainda hoje, muitas coisas são negadas as pessoas pretas, apenas por serem pretas, independente de suas competências e atribuições.
Dito isso, é imprescindível desconstruirmos os racismos que estão dentro de nós de forma cultural, que nos foram impressos diariamente, por muito tempo, colocando o negro em lugar de subserviência, e entendermos que para que tenhamos um mundo com direitos acessíveis a todas as camadas, precisamos todos sermos antirracistas. Porque o combate ao racismo precisa ser uma luta coletiva e diária.
Texto por Nadini da Silva, advogada e mestranda em Ambiente e Desenvolvimento
