E o Pró-Guaíba, quem se lembra?

Como seria se tivéssemos realizados todas as obras de tratamento de esgotos, conservação de solos e todos os módulos do programa?


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Foto: Reprodução

Ouvindo a entrevista à Rádio Independente do representante da Certel e do Comitê Taquari-Antas, Júlio Cesar Salecker, no dia 13 de junho de 2024, me fez recordar o Pró-Guaíba e o trabalho com os extensionistas da Emater/Ascar.

O tempo passa e posso me atrapalhar com algumas datas. Mas, procurei algumas informações noticiadas que recomendo a leitura. Jornal O Eco de 17 de junho de 2007: Pró-Guaíba (06/06/2007) pode dar origem a primeira Agência Hidrográfica do RS – Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura. Jornal Extra Classe de 12 de março de 2012: Pró-Guaíba apresenta prestação de contas (26/11/2012) – publicação governo.

O nome oficial era “Programa de Desenvolvimento Sócio-Ambiental da Região Hidrográfica do Guaíba” e tinha três módulos para ser desenvolvido. A principal finalidade era despoluir o Rio Guaíba, assim chamado na época.

O primeiro módulo envolvia 251 municípios da região metropolitana de Porto Alegre e, claro, as bacias do Caí, Taquari e Rio Pardo, além de outras. Os recursos eram do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) 200 milhões de dólares e mais 40% de contrapartida do Governo Estadual. O prazo de execução seria de cinco anos era 1993, se não me engano.

Bacias do RS (Foto: Divulgação)

Foram diversos treinamentos e muitas reuniões, levantamentos de dados e estudos para traçar as atividades a serem desenvolvidas. Em resumo, foram quase 10 anos e não estava completo ainda. Veio uma comitiva do BID para avaliação das obras em 2002. Algumas coisas tinham sido feitas no tratamento de esgotos. Mesmo assim, aceitaram e propuseram novos recursos, mas com outras exigências.

Foram constituídos vários grupos de trabalho inclusive com a intenção de formar Agência de Região Hidrográfica para Gestão de Recursos Hídricos, tinha sido criado o Conselho Estadual de Recursos Hídricos. Também tinha a Lei das Águas (10.350/94). E foram formados 14 grupos temáticos. Ali também estava o Comitê Taquari-Antas criado em 2004 formado por vários segmentos regionais entre eles Emater/Ascar e Associação dos Engenheiros Agrônomos do Vale do Taquari (Aseat). Tinha-se disponibilidade de informações, caminhos traçados era só implantar. Mas as coisas não iam bem tanto que foi feito uma avaliação com a UNESCO que chegou à conclusão “pela inviabilidade política social e financeira de implantação das agências de água”.

Houve outra tentativa do Estado na procura de recursos junto a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), mas não avançou. O tempo foi passando a falta de recursos foi fechando as torneiras, e sem ideologia, passaram pelos governos Olívio Dutra, Germano Rigotto, Yeda Crusius e Tarso Genro, até que em 2012, sem previsão de recursos para o Pró Guaíba, o programa deixou de existir. Os módulos 2, com recursos previstos de 500 milhões de dólares, e o 3, não aconteceram.

No aspecto agrícola participamos no trabalho com agrotóxicos, fertilizantes e solos, com levantamentos nas propriedades, agropecuárias, cooperativas e agroindústrias e dados do receituário agronômico. Em toda a bacia do Guaíba chegava a 6000 toneladas de agrotóxico aplicados. Os estudos na época não tinham pesquisas que quantificassem quanto e quais resíduos corriam para os rios e terminavam no Guaíba. Comprovado foi o uso em excesso, má utilização, pouco uso de EPI, despreparo do comércio sem profissional responsável, máquinas desregulada ou não adequada. Agora quanto disto ficava na flora e fauna estaria nas pesquisas pensadas nos demais módulos. No aspecto solo problemas de erosão, falta de práticas conservacionistas, necessidade de reflorestamento de encostas e mata ciliar. Na prática foram distribuídas 537 mil mudas de eucalipto, acácia e pinus para que não houvesse corte de mata nativa.

Como seria se tivéssemos realizados todas as obras de tratamento de esgotos e conservação de solos e os módulos 2 e 3 ? Nem saberia avaliar qual seria o resultado das atuais enchentes, principalmente na grande Porto Alegre. Era caro sim na época, mas quanto se está gastando hoje com esta catástrofe? Faltou ação.

Texto por Nilo Cortez, engenheiro agrônomo

1 comentário

  1. Corroborando com os comentários do respeitável Nilo Cortez, pessoa que admiro pela sua trajetória como extensionista e uma vida dedicada ao meio rural no desenvolvimento de nossa agropecuária regional. Conheço o vale do Taquari desde os idos do ano de 1972 quando, pela primeira vez, visitei a região como estudante. A partir de 1979 passei a ter atuação no Vale pois trabalhava numa corporação voltada ao meio Rural até o ano de 1994 da qual me desliguei. Em 2003 passei a residir em Estrela e a partir de 2017 mudei-me para Lajeado. Lembro que em 2003, não posso afirmar que foi exatamente nesse ano, mas foi nesse interim, a promotoria de Estrela estava com uma ação para a restauração das matas ciliares às margens do Rio Taquari, o que há época gerou muita polêmica. Diversas autoridades de classe e de estado do Vale se posicionaram contra a proposta argumentando que quem tinha propriedade nas áreas ribeirinhas do rio Taquari “perderia muito” com as ações de preservação, o tempo passou e o assunto caiu no esquecimento. Deixo a pergunta: e agora que os órgãos ambientais “não atrapalharam” segundo a opinião muitas pessoas dos diversos segmentos da sociedade, de entidades de classe, dos meios de comunicação, de entes públicos, de dirigentes políticos, enfim de muitos e muitas, quanto está sendo o custo em se priorizando os valores monetários em detrimento do meio ambiente, qual é o custo para empresários e pessoas que perderam tudo em questão de poucos dias, poucas horas, poucos minutos do que construíram durante uma vida inteira?

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