As manchetes das notícias nos meios de comunicação trazem dados preocupantes: “Cheias atingiram 206 mil propriedades rurais e acusaram prejuízos de 6 bilhões de reais em solos e nutrientes”. As estimativas apontam R$ 3,1 bilhões para a agricultura e R$ 272 milhões para a pecuária.
Precisamos agora reconstruir as atividades agropecuárias de forma inovadora, mais rápidas e também pensando no aquecimento global. Usar técnicas sequestradoras de carbono ou como dizem “agricultura de baixo carbono”. Uso de cultivos, criações e de cobertura florestal num mesmo espaço, portanto produtiva economicamente.
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O Rio Grande do Sul (RS) foi pioneiro em muitas tecnologias de proteção ambiental. Como já tenho um tempo de vida, acompanhei algumas. A Faculdade de Agronomia da UFRGS iniciou na década de 60 trabalhos de correção do solo junto com a Secretaria da Agricultura, ASCAR/EMATER e Banco Brasil com no uso de calcário e fertilizantes, a famosa “Operação Tatu”, em 1968, o Plano Estadual de Melhoramento da Fertilidade do Solo. Boas lembranças dos professores João Mielniczuk, Egon Klamt e o tradutor do americano Murdoc, além do especialista em comunicação rural Wilson Schmidt. Com a ASCAR, o município de Estrela iniciou neste trabalho em 1968.
A Faculdade de Agronomia da UFRGS, com as Universidades de Pelotas e Santa Maria, desenvolveram várias pesquisas e técnicas de conservação de solo, destacando-se as curvas de nível. Estudos de infiltração de água em florestas e áreas de cultivo com cobertura vegetal. Depois, ainda houve o envolvimento destas universidades, da Sociedade da Agronomia e de grupos ambientalistas na implantação do “Receituário Agronômico”. Entre tantos, o destaque para o engenheiro agrônomo José Lutzenberguer.
Veio a criação do plantio direto em Universidades, extensão rural, cooperativas e diversas empresas de máquinas, fertilizantes e corretivos. Esta é uma técnica que precisa ser restabelecida urgentemente para proteger o solo e é uma das sequestradoras de carbono. A próxima safra vem aí e já começa a ser planejada. Diversificar plantios dentro de um sistema de rotação de culturas. Isto também proporciona a reciclagem de nutrientes no solo. Adubação verde com plantas recuperadoras ajudam a restabelecer a matéria orgânica para a vida do solo.
Como o solo foi alterado precisa ser feito análise para estabelecer as devidas correções, já que em algumas áreas foi perdida a camada fértil e em outros a deposição de terra, e não sei mais o que tem ali.
Técnicas como “Sistema Agroflorestal e Sistema Integrado de Produção se encaixam muito bem para acelerar a biodiversidade no sistema produtivo.
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Vamos para um tema polêmico: se olharmos as margens do Rio Taquari arriscaria a dizer que de 50 a 100 metros em média a partir das margens só poderiam ser mexidos para restauração da mata ciliar. Até com implantação do sistema agroflorestal para se tornar produtivo e permitir a proteção das margens. E isto deve ser planejado em cada propriedade. E ainda é possível permitir que vários produtores participem na produção de mudas com ganhos econômicos.
O que plantar? A Univates tem trabalho de pesquisa com indicativo e disponível na internet. Sabemos o que plantar e como fazer, falta a adoção voluntária ou determinada. Reclamações irão acontecer, mas, deem sugestões e façam.
O Brasil já tem mais de 35 milhões de hectares com plantio direto. Cerca de 17 milhões de hectares com sistemas integrado de produção agropecuária – integração lavoura pecuária e lavoura-pecuária-floresta. Por outro lado, temos 110 milhões de hectares de pastagens pouco produtivas ou em estágio de degradação.
Agora mãos à obra.
Texto por Nilo Cortez, engenheiro agrônomo