Black Friday e a frustração das vendas no Brasil

Na contramão, cresce no mundo um movimento chamado de Buy Nothing Day (Dia de não comprar nada)


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Ivete Kist (Foto: Fernanda Kochhann)

A tradição da Black Friday – registrada há uma semana – vem de longe. Começou ainda durante a 2ª. Guerra Mundial, nos Estados Unidos. Surgiu como forma de ampliar o período das vendas de final de ano e como um jeito de aquecer a economia abalada pela guerra. Com o passar do tempo, a data foi ganhando corpo no compasso da crescente onda de consumismo. Hoje em dia, em muitos lugares, o dia de compras vale como um feriado, emendando com o Thanksgiving Day – este localizado na quarta quinta-feira do mês de novembro. Como se sabe, o Dia de Ação de Graças representa a principal ocasião de encontro das famílias nos Estados Unidos.

Passei vários Thanksgivings nos Estados Unidos e sou testemunha do frenesi de compras que toma conta dos shoppings das cidades no dia seguinte. As lojas aumentam seus estoques especialmente para a Black Friday. Muita gente aproveita para adiantar a lista de presentes destinados ao Natal. É possível que venham a adquirir mais coisas depois e que o efeito principal das ofertas seja mesmo estimular as compras supérfluas. De qualquer modo, o que se vê é uma farra: todo mundo comprando o que precisa e o que não precisa.

No Brasil a Black Friday ganhou força a partir de 2010 e viu o faturamento aumentar ano após ano, especialmente no sistema de compra on line. As lojas físicas custaram mais a aderir, mas isso vem mudando. Tanto é verdade, que na última Black, os supermercados registraram recordes de movimento. Curioso observar que, neste caso, a grande procura é por miudezas – produtos de limpeza, remédios que não precisam de receita, bebidas e ingredientes para o churrasco do fim de semana.

O movimento da Black Friday de 2023 não satisfez as expectativas. Pelo segundo ano consecutivo as vendas decresceram em vez de subir. Prova disso é que os dias subsequentes à sexta foram marcados por ofertas de todo o tipo. Quem costuma frequentar a internet, sabe do que estou falando.

Devem ser muitas as causas da frustração nas vendas da presente temporada. Uma delas seria a constante denúncia de fraudes e a suspeita de falsos descontos. A tal ponto que o Procom, a cada ano, aumenta a lista dos sites considerados perigosos e faz uma ampla divulgação dela.

Talvez seja por isso que no Brasil a Black Friday é conhecida também como a Black Fraude.

Interessante observar que na contramão do Black Friday cresce no mundo um movimento chamado de Buy Nothing Day (Dia de não comprar nada). Ele se localiza no sábado, depois da Black Friday. O projeto começou nos Estados Unidos em 2013 e já está espalhado por 65 países. Tem como objetivos reduzir o consumo, reduzir o desperdício, encorajar o empréstimo e a doação no interior das comunidades. Ao que se diz, 6 milhões de pessoas estão engajadas.

Pouca gente? Pode ser.

Em todo o caso, parece saudável haver outras opções, além de caminhar todos para o mesmo brete de consumo. É bom saber que crescem os fãs do desapego e da partilha, nos quatro cantos do mundo..

Melhor ainda! É bom saber que muitos acreditam que menos é mais.

Texto por Ivete Kist, professora e escritora

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