O clima está quente em Brasília desde a semana passada. A CPI da Covid no Senado chegou ao Palácio do Planalto com o depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, servidor concursado do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, foi lançado um projeto de reforma do Imposto de Renda para pessoas físicas, empresas e investimentos.
Em depoimento na sexta-feira (25), no Senado, Miranda disse que Bolsonaro teria citado o líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em resposta à denúncia de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. O assunto é espinhoso para o governo, que depende do Centrão no parlamento para andar com seus interesses. Barros é um dos principais líderes desse grupo político, fiel da balança.
As revelações fizeram com que a CPI ganhasse um foco específico. Os trabalhos eram criticados como um “teatro político”. Agora não. Está se discutindo um tema bastante relevante: a compra de imunizantes contra a Covid-19 no valor de R$ 1,6 bilhão.
![](https://controle.independente.com.br/wp-content/uploads/2021/05/DS-1.jpeg)
O governo já deu três versões para rebater as revelações do deputado Miranda, que pouco emplacaram até agora. Não ajudou na narrativa o Ministério da Saúde ter cancelado o contrato da Covaxin. Passa a impressão de que tem coisa errada mesmo.
Aquilo que parecia distante começa a assombrar de forma mais intensa o governo. O risco de prevaricação por parte de Bolsonaro, por supostamente não ter feito nada ao saber de irregularidades, aumenta a pressão sobre o presidente, já criticado pela condução da pandemia.
O tema vem amarrado a outra pauta. Na Câmara dos Deputados, Luís Miranda era cotado para ser relator de uma fatia da Reforma Tributária, aquela versão sobre o setor financeiro, que inclui cobranças sobre dividendos e com redução do Imposto de Renda para pessoas jurídicas.
![](https://controle.independente.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Deputado-Luis-Miranda-a-caminho-do-depoimento-na-CPI-da-Covid-no-Senado.jpg)
O pacote tributário tinha anúncio marcado para a última sexta-feira. Porém, quando o Senado marcou o depoimento de Miranda na CPI para a sexta, o governo adiantou o anúncio da reforma nos tributos para a quinta-feira. O curioso: na véspera do depoimento na CPI, em horário de pregão da Bolsa de Valores, com forte impacto nos investidores.
Por quê? Nos bastidores de Brasília, é forte a tese de que o governo fez isso para tentar demover o deputado Luís Miranda de depor na CPI. Se fizesse, perderia a relatoria de um projeto importante, que daria relevância política ao seu nome.
Douglas Sandri é engenheiro, presidente do IFL Brasília e assessor parlamentar. Nas quartas-feiras, analisa os fatos políticos no quadro “Direto de Brasília”