Efeitos de uma experiência negativa na hora de comprar

Dirce Becker Delwing compartilha suas experiências de compras durante viagem


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Há cerca de dois anos, estava querendo comprar uma bolsa de uma marca americana, que conheci por conta de um presente que ganhei de uma tia que esteve em Los Angeles. Não é nenhuma grife famosa dessas que custam o olho da cara. A minha predileção é por conta do estilo. Bolsas coloridas e brilhosas, que você até precisa ter certa coragem pra usar. Tentei efetuar compras on-line, escrevi para o Instagram de filias de vários países. Quem respondia, avisava que não teria como enviar para o Brasil, acabando com a minha expectativa de ter uma nova versão de um dos meus presentes favoritos.

No final do ano passado, quando fizemos o roteiro das férias, decidimos passar alguns dias em Buenos Aires, na Argentina. Entre os lugares pra visitar, anotamos a Rua Florida e o shopping Galerias Pacífico. A Rua Florida está cheia de artistas de rua. Não é raro encontrar músicos brasileiros tocando nas esquinas. E isso justificava a escolha. Já o shopping figurava no meu interesse porque, no local, há uma loja que vende a marca de bolsas que eu procurava há tanto tempo.

Meu esposo é um gentleman em se tratando de fazer companhia na hora das compras. Foi ideia dele irmos direto ao respectivo endereço. Passei o caminho ensaiando o sorriso de acolhida para quem fosse me receber. Também pretendia contar a história da minha peregrinação, o que, sem dúvida, faria com que a equipe de vendas se empenhasse no atendimento. No entanto, não foi assim que a história se sucedeu. Tive a sensação de estar diante de um escritor que carimba o livro ao invés de dar o autógrafo. Uma invisibilidade desrespeitosa. Nenhum esforço pra mostrar os produtos, nenhuma oferta, muito menos qualquer argumentação. Só fechei negócio porque não queria perder a oportunidade. Saí do local cheia de ranço com a marca, que, bem sei, é tão vítima quanto eu do péssimo trabalho das pessoas que me atenderam. Isso me lembra de uma frase que escutei outro dia:

– Quando adquires um produto de forma presencial, tu também compras traços do vendedor É como se algo da essência dele se misturasse com o objeto. Tanto é que a gente se lembra do atendimento quando olha para a compra. Isso mostra a importância do trabalho da equipe de vendas. Profissional que, com o seu jeito de ser, é capaz de agregar ou de tirar valor de um produto.

Deve ser por isso que não tenho conseguido carregar a minha bolsa nova a tiracolo. A implicância recorrente com a alça traz em si algum outro mal-estar.

Texto por Dirce Becker Delwing, jornalista, psicóloga e psicanalista clínica

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