Engolir o choro não torna alguém mais forte

Confira a coluna semanal da psicóloga e jornalista Tamara Bischoff


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Foto: Freepik

Estava em um parque aqui da cidade e uma cena chamou minha atenção. Um menino que devia ter por volta de 5 anos, havia caído num brinquedo e chorava muito. Seu lábio estava sangrando. A mãe e o pai, bem jovens, se aproximaram. “Engole o choro!”, disse um, de maneira ríspida. O outro complementou: “engole o choro e vai lá brincar”.

Fiquei pensando, o que será que o menino assimilou daquela experiência? Não tem como saber, mas eu trouxe este recorte de uma relação familiar para pensar sobre o quanto o mundo nos cobra “engolir o choro” e seguir sorrindo, e o quanto isso cobra um preço alto. Aqueles pais, muito provavelmente, achavam que estavam fazendo o melhor para o desenvolvimento do filho. Devem supor que, dessa maneira, estão criando um garoto forte, que não vai se abalar com qualquer queda, e assim, conseguirá conquistar as coisas na vida. É possível que aquela mãe e aquele pai sintam que não podem, eles mesmos, chorar, se abater e ficar vulneráveis, porque talvez não tenham a quem recorrer. Então, se eles aprenderam a se virar sozinhos, querem transmitir o valioso ensinamento ao filho.

Só que o simples fato de engolir o choro porque alguém mandou e não porque a ideia partiu de você não o tornará mais forte. Isso só o fará entender que para ser aceito e amado você não pode ser quem você é, não pode se mostrar frágil ou triste. Como solução, você vai criando uma casca, um escudo, qualquer coisa que lhe dê alguma segurança para circular pelo mundo, para se adaptar. E então, podem se passar muitos anos, mas aquele menininho, mesmo no corpo do adulto, vai insistir em se mostrar, pedindo para ser escutado.

Tem um trecho de um livro escrito pelo médico e terapeuta Gabor Maté e pelo psicólogo clínico Gordon Neufeld no qual trabalham questões de relacionamento entre pais e filhos que diz: “O melhor presente é fazer com que a criança se sinta convidada a existir na nossa presença exatamente como ela é.”

Tamara Bischoff, psicóloga e jornalista

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