Médico gestor de crise do Hospital de Santa Maria conta como foi a noite da tragédia da Boate Kiss

Cláudio Azevedo se diz mais preparado para viver uma situação de emergência, e afirma que todas as pessoas que foram atendidas por médicos na noite da tragédia, com exceção das grandes queimadas, sobreviveram


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Foto: Vinicius Mallmann

A Rádio Independente entrevistou na manhã desta sexta-feira (27), o médico e tenente-coronel da reserva do exército, Claudio Azevedo (54). Ele foi o gestor de crise do Hospital de Santa Maria na noite da tragédia da Boate Kiss, e tinha como responsabilidade, organizar os atendimentos da casa de saúde.

Após 10 anos do ocorrido, Azevedo conta como foi pensada a atuação na noite. “Na verdade a noite do dia 27 extrapolou qualquer possibilidade de pensamento de que pudesse existir uma situação como essa, em que a gente tem instalada uma capacidade muito menor do que o número de vítimas daquele dia. Naquela situação, o mecanismo do trauma era único, pois eram vítimas queimadas e que haviam inalado a fumaça, então a gente sabia qual o tipo de tratamento que a pessoa tinha que ter, o que facilitou no processo em que a gente poderia transportar essas vítimas por meios próprios, me lembro que os taxistas foram fundamentais naquela noite”, lembra o doutor ao relatar sobre os pacientes que foram destinados para outros hospitais da região.

Natural do Rio de Janeiro, mas residindo em Santa Maria desde 1990, o médico lembra sobre a emoção vivida na noite do dia 27 de janeiro de 2013. “É muito difícil. Eu lembro que naquele dia eu trabalhei 24 horas ininterruptas sem beber uma água nem ir ao banheiro. Então todo apego emocional que a gente teve naquela situação que essas coisas se passaram e a gente nem deu conta. Esse dia ficou marcado pela solidariedade. Eu recebi muitas ligações de médicos de todos os lugares do Brasil que queriam vir para cá”, destaca.

Por fim, o médico detalha dificuldades vividas na época e se diz mais preparado caso ocorra uma situação de emergência. “Olha, a gente percebeu que a falta de equipamentos, de ventiladores, foram difíceis para podermos manejar essa situação. Mesmo vindo aqui o pessoal da saúde de Brasília, com o presidente e o ministro da saúde, nós tivemos uma dificuldade para que a gente pudesse ter um suporte de equipamentos necessários para o tamanho que foi. Hoje, pelo momento em que nós vivemos, eu me sinto muito mais preparado pra atender uma situação essa, que eu espero que nunca aconteça. E o que eu digo e afirmo, é que todas as pessoas que chegaram com vida ao hospital, e que foram assistidas por um médico, tirando os grandes queimados, sobreviveram. Então eu posso dizer que nós conseguimos montar uma estratégia de atendimento, de todas as áreas, fundamental para dar assistência as vítimas”, finaliza.

Texto: Vinicius Mallmann
[email protected]

 

 

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