Meio ambiente, solos e enchentes

Tudo que temos e somos depende do sol, ar, água e solos


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Foto: Divulgação

Amanhã, dia 5 de junho, é dedicado ao “DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE”. Tenho cá minhas dúvidas se é comemoração.

Tudo que temos e somos depende do sol, ar, água e solos. Nossos alimentos são produzidos em uma fina camada de solo fértil que levou muitos anos para se formar pela natureza e pelo trabalho do agricultor. E mais, nos concentramos e vivemos em cerca de 7 km, 2 km para baixo do nível de solo e 5 km para cima, insistindo em tratar mal este pequeno espaço.

A camada de solo em que produzimos nossos alimentos são originárias da decomposição de rochas por condições climáticas e ação da flora, fauna, fungos, bactérias, vírus, em fim, microrganismos. Nossa passagem por aqui é rápida e apenas alguns chegam a 100 anos. A maioria se decompõe ao redor de 70 e 80 anos. Precisamos aproveitar bem este tempo a nós destinado, deixando nossas marcas.

Foto: Divulgação

Olhem as enchentes mais recentes. Poderiam ser menos catastróficas se tivéssemos cuidado um pouco melhor de nossas matas ciliares e das encostas, se o crescimento urbano não tivesse invadido as áreas de alagamento, chamada hoje de áreas esponja, para regular as águas e se cuidássemos um pouco mais de nossos lixos, plásticos, consumo desenfreado dos recursos naturais, etc. O pior é que fomos constantemente avisados sobre as coisas erradas, ambientalmente, que estamos fazendo.

As várzeas do Rio Taquari e afluentes vem sendo castigados mesmo antes da enchente de 1941, basta ler os documentos da época. Só para pegar um mais recente e de escritor da região, com livros sobre a pequena propriedade, bacia do Forquetinha e história da agricultura escritos pelo Eng. Agr. Leopoldo Feldens. Ele já chamava atenção das matas ciliares e de encosta, erosão e relação destruidora com o meio ambiente.

O rastro deixado por esta última enchente, além da montanha de entulhos e lixo, levou mais um pedaço das margens e a camada de solo fértil. Alguns locais teve a deposição de muito lodo rico em nitrogênio, fósforo, potássio e microelementos e sabe lá mais o que. Em outros, ficou apenas o subsolo que por mais que seja feito não será mais recuperado. Ficou bem claro as marcas do arado conhecido como “pé de arado” que indica a compactação de solo por falta de uso do subsolador, o que facilita a perda da camada fértil.

Urge agora fazer análises, correção e manter o solo coberto para evitar mais erosão. Plantio de plantas de cobertura, adubação verde, plantio direto, diversificação de culturas, sistemas integrados de cultivos, sistema agroflorestais, árvores indicadas para as margens dos rios e encostas. Trabalhos da Univates tem excelentes indicações do que pode ser plantado e está disponível na internet. Uso das práticas conservacionistas de solo a tanto tempo trabalhada pela Extensão Rural EMATER/ASCAR.

Estimativas de perdas para agricultura chegam em reais a 2,2 bilhões, a pecuária 245 milhões e avicultura 247 milhões. O Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura estima que 3,2 milhões de hectares agrícolas precisam ser recuperados. São mais de 340 mil propriedades rurais atingidas.

Não se recupera mais, vamos dar uma disfarçada e pagar muito caro por tudo. Se aprendemos a lição deixada pelos voluntários locais e os que vieram de fora será ótimo. Precisamos de uma política ambiental para o Vale envolvendo todos os municípios. Não adiante um fazer e outros não. Uma vez decidido se trocar governo os programas devem ter continuidade.

Só gostaria que fossem mais rápidos na gestão dos programas e recursos para a recuperação. Ainda temos muita falação e pouca ação.

Se for assim salve a data de 5 de junho.

Texto por Nilo Cortez, engenheiro agrônomo

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