“Mulheres da Década” na categoria “Defesa da Mulher”: Elisabete Müller

Elisabete Cristina Barreto Müller é delegada de Polícia Civil aposentada, advogada e professora de Direito


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A delegada aposentada, advogada e professora Elisabete Cristina Barreto Müller, 57 anos, é a laureada na categoria “Defesa da Mulher” no Troféu Mulheres da Década.

Elisabete nasceu em Santa Cruz do Sul, cursou magistério no Ensino Médio e, por cinco anos, atuou como professora nas séries iniciais. Fez vestibular para Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), antiga Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (Fisc). Sua primeira opção era Jornalismo, mas não havia esse curso naquela universidade. Depois, se apaixonou pelo Direito. Aos 23 anos ganhou uma bolsa de estudos e cursou a Escola Superior do Ministério Público, mesmo ano em que passou no concurso para delegada da Polícia Civil, assumindo a delegacia de Cruzeiro do Sul, aos 25 anos, tornando-se a delegada mais jovem do Estado daquele período.

“Além de ser uma mulher delegada, eu era muito jovem. Estávamos saindo de uma Ditadura Militar, construindo a nova Constituição Federal. Isso gerou muito preconceito. Ter mulheres delegadas foi impactante para a época. Hoje têm muitas delegadas, já tivemos uma chefe de polícia, mas todas nós passamos antes, para que hoje se veja isso com normalidade”, destaca. “A minha caminhada em defesa da mulher foi automática, eu passei a me cuidar e cuidar das mulheres que estavam ao meu redor e, por consequência, com as gerações futuras. Tivemos mudanças extraordinárias daquela época pra hoje, saímos da invisibilidade. Os postos em que a gente atua não foram dados, eles foram conquistados”, complementa.

A delegada trabalhou em vários municípios da região e depois foi para Porto Alegre na Academia de Polícia, período em que se formou como Mestre em Ciências Criminais, em 2005. Passou em concurso da Univates e renovou o seu amor pelo magistério, com intuito de conseguir demostrar a importância do delegado de polícia como carreira jurídica e também a outra face de uma delegada, que tem suas fragilidades. “Nós não somos supermulheres, não somos guerreiras. Os delegados têm uma profissão perigosa, que lida com os problemas sociais mais graves, mas são seres humanos como qualquer outro e merecem respeito”, explica.

Há dois anos abriu um escritório de advocacia, em Lajeado, junto com outro sócio e está vivenciando uma nova profissão relacionada ao Direito, que é ser advogada.

Transformação social

Elisabete vê a polícia como um ambiente de transformação social. Uma transformação que ela mesma iniciou quando se candidatou à vaga de delegada; momento em que os policiais homens tiveram que começar a respeitar as mulheres e seus direitos conquistados. Idealizadora da Casa de Passagem, também atua como advogada, especialmente na defesa das mulheres vítimas; participa do Conselho da Mulher de Arroio do Meio e das Redes de Enfrentamento à Violência contra a Mulher de Lajeado e de Arroio do Meio.

Casa de Passagem

A delegada se define como uma pessoa otimista por teimosia, que tem fragilidades e que faz militância para que as mulheres não sofram. Ela lembra que a morte de uma mulher, em Arroio do Meio, foi um divisor de águas na sua vida. “Na época, em 1997, não tinha a Lei Maria da Penha, houve uma ocorrência e a mulher não quis sair da casa do agressor, pois achava que ia perder os seus direitos. Nós recomendávamos insistentemente que ela não voltasse. Ela voltou e foi morta. Aquilo sempre ficou na minha mente, pois eu acreditava que se tivesse um lugar para ela ir naquela noite, talvez estivesse viva. Sentia que precisava fazer alguma coisa, além do trabalho de delegada”, lembra.

A Casa de Passagem do Vale foi fundada em 1998 para abrigar mulheres vítimas de violência. “Ela é fruto de um esforço coletivo que não tem em muitos lugares do país. A violência contra a mulher, apesar de ter saído da invisibilidade e do silêncio, ainda é um tema que tem bastante preconceito na sociedade”, declara.

Vida pessoal

Elisabete é filha única, casada há 31 anos, mãe da Larissa e do Andersen. A família gosta de fazer viagens de kombi, gosta muito de música, de dança e de ler. Defensora do meio ambiente, ao lado do marido, é uma das fundadoras da ONG ECOBÉ, e em casa, cuidam para não exagerar no consumo, reutilizar o que conseguem e poluir menos.

“Apesar da minha rotina extenuante tínhamos a noite da leitura em casa, onde parávamos para ler, pois pensamos que pelo exemplo nós ensinamos mais do que falando”, relata. “Gosto de escrever, prezo pelas amizades. Me considero uma pessoa que tem fragilidades e medo como qualquer outra. Sou otimista por teimosia. Procuro ver sempre o lado positivo e tudo o que eu posso melhorar, tendo o entendimento de que isso está acontecendo para a transformação”, relata.

O seu maior desafio foi equilibrar os papeis de mãe, delegada, esposa, filha e amiga sem adoecer. E por isso, Elisabete deixa um recado para as mulheres: “não romantizem as suas profissões. Eu fiz muito plantão. Na primeira gravidez trabalhei até no dia antes do parto. Depois eu percebi que aquilo não estava certo. Isso não pode ser romantizado. Aconteceu porque a lei não me protegia e eu não podia demonstrar fragilidade, já que o machismo vigorava. Eu não fui uma guerreira, pois esta não pode ser vista como atitude uma guerreira. No segundo filho a lei já tinha mudado e a situação foi bem diferente”, declara.

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