“Mulheres da Década” na categoria “Saúde”: Melissa Haigert Couto

Melissa coordenou a missão de Apoio Psicossocial e voluntariado na tragédia da Boate Kiss em Santa Maria, em janeiro de 2013


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Incansável, solidária e com vocação para cuidar das pessoas. Assim pode ser definida a psicóloga Melissa Haigert Couto, 45 anos, laureada na categoria “Saúde” do Troféu Mulheres da Década.

Melissa nasceu em São Francisco de Assis, mas por causa da profissão do pai, que era bancário, a família residiu em várias cidades. Cursou graduação em Psicologia na cidade de Ijuí e logo que se formou, em 2001, foi trabalhar em São Vicente do Sul, onde atuou por três anos na prefeitura e em consultório. Ao mesmo tempo estruturou um consultório em Santa Maria, clinica que possui até hoje.

“Quando eu era criança mudávamos muito de cidade e eu ia buscar acolhimento em grupos de Igreja, onde também fazia trabalho voluntário. Sempre foi uma acolhida muito importante. Minha mãe conta que aos seis anos de idade eu falei que seria Psicóloga. Quando me formei procurei a Parceiros Voluntários e me voluntariei para começar o trabalho em uma comunidade de crianças vulneráveis em Santa Maria”, destaca.

Em 2004 foi estruturada uma Cruz Vermelha em Santa Maria e Melissa foi indicada para ser a psicóloga, iniciando assim a sua trajetória em emergências e desastres, algo que quase não era feito no Brasil. Segundo ela, essa psicologia a escolheu.

Melissa é Psicoterapeuta Analítica, Terapeuta EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), especialista e pós-graduada na área de Psicologia em Emergências e Desastres. Há 22 anos dedica seu cuidado a situação de perdas, traumas e processos de luto. Devido suas atuações tornou-se referência nacional na área e professora convidada da Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma); da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) – Santa Maria; da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc); da Universidade La Salle (Canoas); Universidade de Caxias do Sul (UCS), além de ser voluntária e colaboradora da Cruz Vermelha Brasileira desde 2004. Por 10 anos foi diretora de voluntariado e coordenadora da equipe de apoio psicossocial da Cruz Vermelha Brasileira filial Santa Maria. Em 2013 recebeu a Medalha de Honra ao Mérito de 3ª Classe da Defesa Civil do Rio Grande do Sul e, em 2014, a medalha de Honra ao Mérito da Cruz Vermelha Brasileira.

Boate Kiss

Melissa coordenou a missão de Apoio Psicossocial e voluntariado na tragédia da Boate Kiss em Santa Maria, em janeiro de 2013 até a chegada da Força Tarefa do Ministério da Saúde; após manteve-se no Grupo Gestor e posteriormente assumiu a coordenação do Apoio Psicossocial da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). “Fiquei quatro meses com equipes de voluntários, um trabalho incansável”, lembra.

Em dezembro de 2016 foi acionada pela Secretaria Municipal de Saúde de Chapecó, Santa Catarina, devido a sua experiência de gestão no Apoio Psicossocial da Boate Kiss, para compor e coordenar a equipe de Apoio Psicossocial que atendeu as famílias e funcionários da Chapecoense.

Em 2017, Melissa atuou na gestão e estruturação da Rede de Apoio Psicossocial pós-impacto em Maratá, no Rio Grande do Sul, após os Tornados Gêmeos. Em 2019 trabalhou incansavelmente em Brumadinho, Minas Gerais, por causa do rompimento das barragens. Nesse momento, junto aos seus colegas Marly Perrelli e Marcelo Perpétuo, funda a RAP- Rede de Apoio Psicossocial. Em 2022 esteve por duas vezes em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde coordenou o Apoio Psicossocial, as capacitações e os treinamentos pela Rede de Apoio Psicossocial (RAP) em parceria com a SOS Global.

Em Lajeado

Em fevereiro de 2020, Melissa mudou-se para Lajeado com o intuito de passar mais tempo com a família, mas em março de 2020 começou a pandemia. Prontamente ela assumiu pela RAP, a coordenação do trabalho de Apoio Psicossocial à Covid-19 nos 90 dias da crise em Lajeado, que estava na bandeira vermelha do estado, montando duas frentes de trabalho, uma que atuou no atendimento remoto, através de um call center pela Univates e outra que atendeu os profissionais da linha de frente das Unidades Básicas de Saúde. Além disso, criou os primeiros protocolos de atendimento remoto em Primeiros Socorros Psicológicos em pandemia do mundo, e junto com os colegas da RAP capacitaram inúmeras equipes de Saúde Mental em todo país para acolhimento remoto e prestaram consultoria para esses estados devido aos atendimentos realizados.

Em 2023 coordenou pela RAP o apoio psicossocial da resposta rápida na crise. A RAP esteve presente não só com seus fundadores, coordenando os serviços de maior importância na resposta rápida do Apoio Psicossocial, como pode contar com dezenas de alunos de outros municípios que haviam sidos capacitados pela RAP e estavam qualificados para a atuação nesses cenários. Também atuou na enchente que atingiram várias cidades do Vale do Taquari sendo considerado o maior desastre natural do Rio Grande do Sul. Neste ano, em 2024, Lajeado foi a primeira cidade que sediou o curso de Primeiros Socorros Psicológicos da RAP, formando 20 profissionais em Primeiros Socorros Psicológicos em Emergências e Desastres, Melissa montou esse curso que é o único do Brasil com Simulacro, onde os alunos atuam, na prática, em um cenário de necessidade de Apoio Psicossocial.

Além de todas estas atividades, Melissa também é personagem do livro “Fases da ajuda humanitária: a saga dos voluntários da Cruz Vermelha”, obra da jornalista Sibele Oliveira. Este é o primeiro livro no Brasil que conta a história da Cruz Vermelha Brasileira. É co-autora de algumas obras, dentro deste tema na psicologia, e está terminando seu livro que conta suas histórias em contextos de crise dos desastres que coordenou o apoio Psicossocial.

Melissa tem uma clínica em Santa Maria e atende em Lajeado na Clínica Resting Mind há quatro anos. “Lajeado me acolheu como se eu vivesse sempre aqui”, destaca. “Todo meu tempo de sobra é para a família. Os meus filhos foram criados para serem resilientes, fortes e independentes como eu sou. Essa era outra certeza que eu tinha na vida: eu seria mãe, independente de casar ou não”, observou. Mas, “ainda bem que encontrei o homem da minha vida, só ele seria capaz de aguentar toda essa jornada comigo”. Ela finaliza dizendo que tudo que ela faz na vida tem haver com o que ela recebe da vida. “Cada um de nós só pode dar aquilo que tem, Deus é muito generoso comigo e eu só faço o mesmo com os outros. Sem meu marido, meus filhos e minha família, nada disso seria possível de ser feito, eles são minha luz, minha força, meu sentido e propósito”, relata.

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