“Mulheres da Década” na categoria “Superação”: Tais Cauduro

Tais, que é massoterapeuta, teve perda da visão nos primeiros dias de vida


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A lajeadense Tais Cauduro, 36 anos, é uma das homenageadas com o troféu “Mulheres da Década”, na categoria Superação.

Tais, que é massoterapeuta e também trabalha como auxiliar de administração na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Arco-Íris, em Estrela, teve perda da visão nos primeiros dias de vida. Filha de Miguel e Leda, ela nasceu prematura, e, por isso, precisou ficar 72 dias na incubadora. O oxigênio da incubadora afetou a sua retina, o que impactou na perda da visão. Mas, ao invés de enxergar isso como um problema, a família de Tais encarou a situação como um desafio, o que fez com que, desde pequena, ela se sentisse acolhida e incluída na sociedade. A irmã do Tomas, do Tailan e do Thales, sempre foi incentivada a fazer as mesmas atividades que qualquer outra criança da mesma idade faria, como andar de motoca, por exemplo.

Tais frequentou o Ensino Fundamental e Médio no Colégio Estadual Presidente Castelo Branco. Lá, também passou a fazer parte da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev), onde além de estudar e realizar trabalho voluntário, atuou na diretoria. “Eu trabalhava com informática na Apadev e, também, fui auxiliando os iniciantes a compreenderem os programas de voz que eram instalados nos computadores, além de auxiliar no Braille”, lembra.

Outra habilidade desenvolvida foi com os instrumentos. “Eu toquei violão desde os seis anos de idade. Fui musicista em toda a minha adolescência. Toquei e cantei em vários bares e até fiz parte de uma banda, mas como comecei muito cedo, isso já estava me esgotando e parti para outras atividades”, lembrou. Em virtude disso, em 2009, Taís fez curso de Massoterapia em Porto Alegre. Em 2010 montou a sua sala na casa dos pais, onde são realizados os atendimentos.

No ano passado, Tais participou de um concurso na Prefeitura de Estrela e foi aprovada para o cargo de auxiliar de administração na Emei Arco-Íris, onde foi muito bem acolhida pela direção, professores e alunos. Ela conta como realiza as suas atividades. “Adaptei o computador da Escola aos meus programas de voz e, quando preciso fazer cópias de materiais, a diretora coloca marcadores nas páginas para que eu saiba qual é o lado certo. No ano passado passei num concurso em Lajeado e estou esperando me chamarem para trabalhar”, relatou.

Agora Tais se prepara para realizar um dos seus maiores sonhos: ter o próprio imóvel. “Estou comprando meu primeiro apartamento, que é o meu maior sonho. Isso vai me ajudar a ter mais autonomia. Eu sempre gostei de ser independente. Hoje eu cozinho, consigo manter a limpeza de uma casa e me sinto preparada para morar sozinha. Quero poder ir e vir, ter a minha independência quase total, porque acho que ninguém é independente totalmente, todo mundo precisa da ajuda de alguém para alguma coisa”, declara. “Pra mim, o céu é o limite. Eu não tenho muitos medos. Hoje o maior receio é o impacto inicial de morar sozinha”, observou.

Embora esteja muito decidida e feliz, Tais sabe que essa decisão causa preocupação para os pais. “No início foi bem difícil para os meus pais. Eu tenho uma família maravilhosa que sempre me apoiou em tudo que eu quis fazer. Hoje a gente percebe muita superproteção da pessoa com deficiência, antigamente as pessoas com deficiência até eram escondidas dentro de suas casas, elas não podiam sair e ter uma vida social. Os meus pais são diferentes. Eles sempre me apoiaram. Eu sou tratada como os meus irmãos que enxergam. Há 10 anos decidi morar sozinha e eles ficaram preocupados, mas agora já estão se acostumando e me ajudam na escolha do imóvel”, relatou.

Lutas

Tais se define como uma pessoa extrovertida, que está sempre de bem com a vida, que tem defeitos e muita vontade de viver. “Eu tenho sede de viver, de realizar, de fazer acontecer. Eu gosto muito da vida e sou uma pessoa que procura ajudar muito as pessoas, porque eu também recebo muita ajuda”, relatou.

Questionada sobre as lutas que precisa enfrentar por causa da perda da visão, ela declara que são várias. “Já tivemos muitas conquistas enquanto Apadev, mas ainda temos muitas calçadas inacessíveis e até inacessibilidade nos cardápios, pois necessitamos da ajuda de algum funcionário para realizar a leitura. Existem poucos cardápios em Braille para que a gente possa ter a autonomia de escolher o que a gente quer consumir”, declara. “Essa luta continua”, complementa.

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