O melhor caminho para mitigar os efeitos das cheias no Vale do Taquari é readequar as cidades e melhorar previsões e alertas, diz pesquisador

Para Walter Colliischonn, do IPH da UFRGS, soluções estruturais como dragagem, barragens de contenção, diques, comportas não se aplicariam à Bacia do Taquari-Antas pela sua condição geográfica


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Rio Taquari em Lajeado após as enchentes de maio (Foto: Carolina Leipnitz)

Dragagem, barragens de contenção, diques, comportas. Essas soluções estruturais não se aplicariam para conter as grandes enchentes do Rio Taquari, no Vale do Taquari, em função das características geográficas da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. A opinião é de Walter Colliischonn, professor de hidrologia e integrante do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

De acordo com ele, seria mais adequado para a região soluções não estruturais: o remanejamento urbano, com proibição de construções em áreas de risco e, conforme possibilidades, transferir moradias, comércio e indústrias para lugares que não inundáveis.

“O melhor caminho no caso do Vale do Taquari são as soluções não estruturais, que implicam principalmente no seguinte: readequar a localização das estruturas e das moradias da área que pode ser atingida, e melhorar a previsão e o alerta para que as pessoas possam estar avisadas e minimizar as perdas de vidas humanas”, defende.

Walter Collischonn (Foto: Divulgação)

“Lajeado está numa condição muito boa nesse sentido. Existem áreas disponíveis no município que são áreas de baixa declividade, não são montanhas nem encostas, e que estão livres da área de inundação. Então Lajeado, de todas as cidades do Vale, talvez esteja na melhor condição. A gente tem todo um eixo de desenvolvimento possível que fica fora da região inundada. Outras cidades do Vale do Taquari já não tem a mesma condição. É o caso de Muçum, por exemplo: no momento em que você sai do fundo do Vale, você já encontra montanhas. A realocação das pessoas e do próprio centro da cidade é mais complicado”, observa.

Dragagem

Segundo Colliischonn, antes de se pensar em fazer uma dragagem mais abrangente em um grande rio como o Taquari, é preciso responder a três perguntas:

  1. Houve assoreamento e grande acúmulo de material no leito do rio, de modo a deixá-lo mais raso?
  2. Se fizer uma dragagem, vai se ter o resultado prático esperado?
  3. Qual o custo de uma operação dessa?

De acordo com o professor da UFRGS, diferente do que se imagina, numa grande enchente pode ocorrer o aprofundamento do leito do rio pela força da correnteza. Por isso seria necessário fazer uma comparação do antes e do depois para ver se uma dragagem pode trazer os efeitos desejados.

Caso se opte por esta alternativa, Colliischonn destaca que uma dragagem não é um procedimento simples; tem que ser feito a nível regional, encabeçado pelo Governo do Estado ou pela União, tomando todos os cuidados porque pode-se resolver paliativamente em um lugar, mas causar danos ambientais substanciais mais à frente na bacia.

Também é caro, ao custo de milhões, alerta o professor, ao recordar que uma dragagem feita no canal de Rio Grande anos atrás custou meio bilhão de reais. Por isso ele recomenda que se faça um estudo técnico para que a região tenha certeza da validade de uma dragagem na Bacia Taquari-Antas. Estudo que girar em torno de R$ 10 a R$ 15 mil, cita.

O pesquisador lembra, porém, que não dá para dragar muito o fundo do rio em certos pontos por conta das rochas dessa região, fato que dá origem, por exemplo, ao nome da cidade de Lajeado. Colliischonn explica que a draga não consegue suplantar as rochas mais profundas; é necessário o uso de explosivos, o que eleva a complexidade.

Barragens de contenção

E em relação às barragens de contenção, estruturas capazes de segurar a água em momentos de cheia e liberar durante períodos de escassez, como existem no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, Colliischonn pondera que, para o Vale do Taquari, essas barragens teriam que ser de quatro a cinco vezes maior para mitigação das enchentes.

“Os lugares que adotaram barragem para controle de cheias, se eles tivessem passado pelas chuvas que aconteceram na nossa bacia do Taquari-Antas entre abril e maio de 2024, essas barragens não teriam dado conta”, afirma.

Texto: Tiago Silva
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