O mutirão do campo

Somos muitos que ainda podemos ajudar os mais prejudicados


0
Foto: Divulgação

O sistema de trabalho de “mutirão” (mobilização de pessoas que, coletivamente e de forma gratuita, realizam trabalho que traga vantagem para todos), ou como alguns chamam erroneamente de “butirão”, faz parte da história da colonização. Era assim que trabalhavam em tempos difíceis. Lembro da colheita de soja e milho, o dia de matar o porco, construção de igreja, salão da comunidade, campo de futebol, estrada, pontes, pinguela, escola e até contratação de professor. E ainda tinha a ajuda para a família onde tinha alguém doente, viúvo ou viúva e por aí vai.

Passou esta época e veio a tecnologia, máquinas, sistemas novos de plantio e criações que facilitaram o trabalho. Se coloca aí também a diminuição de mão de obra no campo. E ficamos mais individualistas.

Não esperávamos voltar a tempos tão duros. Vieram os problemas climáticos e, recentemente, as enchentes. E como evoluir nas nossas vidas e voltar as atividades, como estão dizendo, o novo normal?

Se olharmos o Vale do Taquari como um todo, notamos que um bom percentual, que não sei qual, não foi atingido, pelo menos, diretamente. Claro, houve perdas generalizadas pelo excesso de chuva. Quem perdeu quase tudo foi um percentual menor. Quero dizer que somos muitos que ainda podemos ajudar estes mais prejudicados. E é nessa turma que acredito que o espírito de “mutirão” possa ajudar os demais. É hora dos gestos de participação comunitária e do trabalho associativo.

Já tem vários exemplos acontecendo, alguns chegaram ao meu conhecimento e devem ter muito mais.

Em Boqueirão do Leão, o grupo com um gerador ligou 15 freezers e ia fazendo rodízio para não se perder a carne. Alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais acolhendo produtores e distribuindo feno, silagem e pré-secado. Em Mato Leitão, trabalho entre produtores, empresas, sindicato, Emater, STR, ARLA forneceram milho, pré-secado, silagem, ração para produtores que estavam sem alimentação. Outros com a tomada de força do trator fizeram o gerador fornecer energia emergencial para executar trabalhos. Galpões que foram cedidos para guardar equipamentos, animais etc. Parabéns para os que receberam pessoas em suas casas, inclusive mais velhos que estavam sozinhos que tanto tem sofrido sem suas casas. E muitos nem parentes são.

Quanto as políticas públicas que estão vindo aí, gostaria de pedir aos gestores destes programas que não temos mais tempo e não podemos perder para o “papel e carimbo”. Chega de muita falação e pouca ação. Nosso pessoal é bom pagador. Acreditem nos profissionais que estão elaborando os projetos. Sempre há as exceções, mas estes responderão judicialmente pelas trapaças, é questão de tempo e ainda passarão vergonha na sociedade. Hoje tudo se torna público.

Vamos entrar em período de eleições e os eleitores não são bobos, então é bom não querer usar a crise da enchente como moeda de troca por voto. Não é o partido que vai ganhar ou perder é a comunidade. Vai se dar mal.

E hora de ajudar os produtores que são a base da economia do Vale. É sua matéria prima que faz girar a roda em todo o comércio. Desde o cultivo ou criação, transporte, agroindústria, cooperativas, mercado, banco e até os serviços prestados na sociedade. E o consumidor pode fazer seu papel dando preferência aos produtos do Vale é aqui que começa tudo.

Vamos aos poucos sair desta crise com a participação de todos.

Texto por Nilo Cortez, engenheiro agrônomo

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Por favor, coloque o seu nome aqui