O negro único

O ambiente interfere em todas as formas como nos relacionamos, principalmente com a nossa negritude


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Foto: Freepik

O “fenômeno” do “negro único” pode ser algo desconhecido, com este “nome”
para muitas pessoas, mas nada mais é do que um ambiente majoritariamente
branco, onde uma pessoa negra é inserida para ser a representatividade naquele
lugar. No entanto, inserir uma pessoa negra no seu quadro de funcionários, não faz
com que ele se torne representativo, efetivamente. Porque possivelmente aquela
pessoa inserida naquele contexto, passando a conviver apenas com pessoas
brancas, grande parte do seu dia, normalmente sofrerá algum tipo de preconceito,
seja pelo seu cabelo, pela forma como se veste, ou pela forma como conversa.

E a partir destas experiências a pessoa negra precisará moldar-se da forma que seus
colegas entenderem mais adequado, para se sentir bem, e validada naquele
ambiente. O que acaba gerando uma desconexão com a negritude, porque a
mulher de cabelo black power ou tranças, alisa o cabelo. As indicações de séries,
filmes, ou até propriamente influencers para acompanhar nas redes sociais, passa a
ser majoritariamente branca, e aquela pessoa negra, acaba esquecendo de que
quem tem o protagonismo da própria vida e ela, vai se moldando de acordo com
que o ambiente exige, porque precisa estar naquele lugar, por ser seu posto de
trabalho, ou lugar onde estuda, entre diversos outros cenários que isso acontece.

E é por isso, que nós como pessoas negras precisamos fazer um movimento
diferente, ao invés de acomodarmos-nos neste “posto” de negro único, precisamos
nos movimentar com nossos pares para que cada vez mais pessoas negras
também estejam inseridas naquele ambiente. Porque outra consequência deste
lugar de negro único em um ambiente é a solidão da pessoa negra, que pode
acabar se isolando, para evitar o preconceito, e também para não ficar sendo
reiteradamente questonada, quanto a sua aparência e suas competências.

Este movimento de incluir mais pessoas negras nos ambientes é algo
extremamente difícil, porque sempre será questionado por alguém que entende ser
desnecessária a preocupação com o caráter racial para a inclusão de uma pessoa
no quadro da empresa. Justamente para manter aquela pessoa negra ali inserida,
em um ambiente solitário, para que ela se mantenha dentro dos padrões
estabelecidos por aquelas pessoas brancas que a circundam.

Mas cada vez mais, temos profissionais negros mais bem capacitados, principalmente com a instituição da política de cotas, raciais e sociais, que tem viabilizado acesso a um ensino de
qualidade, a população menos desfavorecida do país, que é majoritariamente negra,
pelo passado escravagista do Brasil, que findou a poucas gerações, e que ainda
gera grandes reflexos na nossa sociedade atual.

Que sejamos em algum momento, o negro único, para que possamos abrir os
caminhos para que outras pessoas negras possam também ter o direito de sonhar e
escrever sua própria história, sem ser roterizada, por outra pessoa.

Texto por Nadini da Silva, advogada e mestranda em Ambiente e Desenvolvimento

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