O que você perdeu naquilo que foi perdido?

Para seguirmos adiante, precisaremos ressignificar de maneira individual e também coletiva o que aconteceu


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Foto: Carolina Leipnitz

Completamos um mês da maior tragédia coletiva vivida pelos gaúchos. No feriado da quinta-feira, circulei por Arroio do Meio, minha cidade de origem, e ainda custo a acreditar no que vi. Quanta resiliência será necessária para reorganizar a vida.
Por onde andamos, as histórias nos alcançam. Cada uma, com seu sofrimento, que merece ser reconhecido.

Teve quem perdeu a casa, e teve quem perdeu a sala de aula. Também teve quem perdeu sua fonte de renda, a loja, a lancheria, a empresa. Teve quem perdeu os móveis, e teve quem perdeu o carro. Sim, também teve quem perdeu a vida, a sua ou de algum familiar ou amigo. Todas essas perdas são dolorosas.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

Outro dia, questionei na minha rede social: o que você perdeu naquilo que foi perdido? Porque quando choramos por causa de um objeto, por exemplo, seja ele qual for, não é somente pelo objeto em si que choramos, pelo seu “valor de mercado”. Lamentamos aquilo que ele significava pra nós e o que levou consigo. Por isso, por mais dinheiro que pudesse ser injetado em nosso estado, e especialmente aqui no Vale do Taquari, ele não seria capaz de restituir as coisas mais importantes que foram perdidas.

Aquela casa que se foi, comprada com o suor do próprio trabalho, em muitos casos não será reconquistada, porque não haverá tempo para isso. Até pode ser que venha uma nova, mas será preciso apropriar-se dela, incluí-la na história, dar-lhe outro significado, e isso leva algum tempo.

Minha intenção não é ser pessimista com o futuro breve, mas reconhecer a dor que cada um sente e poder dar voz a essas dores de todos os tamanhos.

Para seguirmos adiante, precisaremos ressignificar de maneira individual e também coletiva o que aconteceu. Talvez nosso desafio daqui pra frente seja estabelecermos relações diferentes com os bens materiais, investir neles menos da nossa energia, se é que isso é possível numa sociedade capitalista.

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

 

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