Racismo e as relações de trabalho

Manutenção financeira, subordinação e situações de racismo


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Foto: Reprodução/Mundo Negro

Na última semana foi ao ar, em rede nacional, um programa em que o apresentador constrange uma das assistentes de palco, questionando se estava fazendo uso de uma peruca, justificando ter visto um piolho no cabelo da mulher. Ainda, não satisfeito, pediu que outra assistente puxasse o cabelo dela, para confirmar se não era mesmo uma peruca. Como se isso fosse interferir em algo no programa. E claro que esta conduta só aconteceu porque a mulher usava o seu cabelo black power, natural. E a partir desta situação surgem diversas discussões, como a da subordinação enfrentada pelas mulheres negras, mesmo mais de 130 anos após a abolição da escravatura. Porque seus corpos ainda parecem ser um objeto, que qualquer um se sente à vontade para importunar, tocar, ou pior ainda, abusar.

Além da luta pela desconstrução dos padrões de beleza eurocêntricos, que está acontecendo de forma vagarosa, mas está acontecendo, com ajuda de mulheres militantes, e também das mídias, que têm trazido estas mulheres como protagonistas de suas histórias, e assim a mulher negra está começando a entender-se como bela, admirável e respeitável, diferente do que a sociedade lhe impõe. Para quem não estuda questões étnico-raciais, pode parecer que esse movimento é algo supérfluo, apenas uma questão de ego, mas a falta de autoestima é um dos fatores que impede muitas mulheres de estarem em lugares que gostariam de estar, para lazer, mas também envolvendo questões profissionais. O medo de como serão percebidas naquele ambiente, às vezes é paralisante, e impede que ela se permita estar naquele local, porque sabe que será estereotipada, quando não foi importunada, por alguma piada de mal gosto. O que acaba obrigando a mulher que escolhe enfrentar esses desrespeitos, a ter uma postura mais dura, mais séria, o que faz com que seja taxada como grossa, ou mal educada, apenas por não permitir que seja feita de piada naquele lugar. O que às vezes acaba colocando-a em outra situação de vulnerabilidade, que é o risco de perder seu emprego, e seu meio de subsistência.

E assim, outro ponto extremamente relevante pode ser abordado, que é a necessidade da mulher negra se provar, em tempo integral, porque independente do número de títulos que ela tiver, quando chegar em qualquer lugar, antes de tudo, ela será uma mulher negra. Quando ela estiver com o cabelo preso, possivelmente vai ouvir: “cabelo crespo é difícil de “domar” né?”; quando estiver com ele solto, pode ouvir: “que cabelo exótico, até que é bonito”; quando estiver com ele trançado, vai ouvir: “mas tem como lavar esse teu cabelo?” E eu insisto nessa discussão, porque eu nunca vi, uma pessoa branca, sendo questionada, se pode lavar os seus cabelos, independente de utilizar aplique ou lace (uma forma mais moderna da peruca). Porque esse tipo de questionamento, vem do preconceito já enraizado na sociedade, que afirma que o cabelo da pessoa negra é descuidado, ou sujo, o que é unicamente racista, porque a maior parte das pessoas que fazem este tipo de comentário, não tem qualquer convivência ou relação com pessoas negras.

Por isso, antes de qualquer tipo de questionamento, ou ação nesse sentido, é importante pensar: “como eu me sentiria se fosse outra pessoa agindo desta forma comigo?” e eu tenho certeza, que se a pessoa tiver o mínimo de bom senso vai perceber o erro que está próximo de cometer. E caso ainda falte bom senso, é necessário urgentemente buscar seu letramento racial, para compreender como a sua atitude racista pode impactar a vida de pessoas que você nem sequer conhece.

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