Taça Jacy Pretto: homenagem e reconhecimento

Acontece que reconhecer as qualidades das pessoas próximas é coisa rara


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Ivete Kist (Foto: Fernanda Kochhann)

Fico sabendo que o Campeonato Municipal de Futebol Amador de Lajeado, em 2024, vai oferecer a Taça Jacy Pretto ao time campeão da temporada.

Isto mesmo, o título da Taça de 2024 homenageia Jacy Pretto, que é pessoa bem conhecida no meio desportivo regional. No início de sua carreira, Jacy Pretto foi jogador de futebol e atualmente tem atuação destacada como cronista esportivo do Grupo Independente.
Exatamente por ser nome popular e por ser presença constante no cotidiano dos esportes é que a ideia de homenagear Jacy Pretto no Campeonato Municipal merece destaque. Acontece que reconhecer as qualidades das pessoas próximas é coisa rara. Não apenas no âmbito esportivo – diga-se de passagem. Muito mais frequente é apontar as falhas, sublinhar os erros e não perder oportunidade de lembrar deles.

O caso da Taça Jacy Pretto atrai minha admiração pelo contraste que faz com uma experiência que tive recentemente. Na preparação à viagem ao Chile, procurei ir lendo escritores chilenos. Dois deles em particular, os dois que já foram laureados com o prêmio Nobel da Literatura. Sim, o Chile já teve dois escritores distinguidos com o prêmio Nobel da Literatura e olha que o país não tem nem o dobro da população do Rio Grande do Sul. Os escritores são Gabriela Mistral e Pablo Neruda. (Vale lembrar que até hoje o Brasil não ganhou nenhum Nobel, nem da Literatura nem de nenhuma outra categoria).

Pois bem, minhas leituras dos chilenos mostrou haver considerável dedicação em divulgar aspectos desabonadores de cada um dos escritores famosos. É claro que não seria possível questionar a qualidade dos escritos deles, os quais gozam de amplo reconhecimento internacional. Se a competência não está em questão, o alvo vai para a vida privada. Os amores de Gabriela Mistral são esquadrinhados e reprovados duramente. A situação de Pablo Neruda é ainda mais sombria. Ele é acusado de machista, de plagiário, de abandonar a filha que nasceu deficiente, de ser comunista-burguês – entre outras coisas.

Durante a estada no Chile comprei o livro “Los pecados de Neruda”, de Hernán Loyola. O volume de 342 páginas aliviou um pouco o mal-estar. Sucede que, não obstante o título falar em pecados, vai na contramão da onda negativa. Loyola não se junta ao coro dos que atiram pedras. Ele não deixa de reconhecer dificuldades pessoais de Neruda, mas rechaça a maioria das acusações, mostrando que brotam principalmente da inveja de quem nunca chegou nem perto da fama alcançada pelo conterrâneo.

Acho que vale pensar sobre este assunto. Sabemos bem que ninguém é perfeito. Também sabemos que a maledicência é um jeito confortável de nos desforrar de quem brilha mais do que nós. De tudo fica uma pergunta: o que melhor contribui para inspirar ideais positivos: exaltar as virtudes ou proclamar os defeitos de antepassados e de contemporâneos?

Moral da história: Viva a Taça Jacy Pretto!

Texto por Ivete Kist, professora e escritora

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