Viagem ao Nepal

A possibilidade de conviver num ambiente cultural muito diferente do nosso vale por um choque. É capaz de sacudir as nossas crenças.


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Ivete Kist (Foto: Fernanda Kochhann)

Acabo de retornar de viagem ao Nepal, um país que fica situado na Ásia e faz fronteira com a Índia e com a China.

O Nepal é bem pequeno. Tem uma extensão territorial mais ou menos igual à metade do Rio Grande dos Sul. Para uma área territorial assim, a sua população, estimada em 30 milhões de habitantes, é grande. Tanto mais que as terras habitáveis ficam reduzidas em função do relevo acidentado. Não esquecer que o país é atravessado pela cordilheira do Himalaia, onde se situa o pico mais alto do mundo, o Everest, com os seus 8.848 metros, também chamadode “teto do mundo”.

O Nepal é um país pobre e muito tradicional. Continua fortemente preso a costumes que datam de séculos. Não se pode considerar que isto seja um problema, pois exatamente aí está um dos principais atrativos do país. Tanto é verdade, que o turismo ocupa o primeiro lugar na economia local. Mas não só o estilo tradicional de vida chama os turistas. As atividades de montanhismo são o principal diferencial entre as atrações. Gente do mundo todo se dirige para lá em busca do turismo de aventura, em trilhas pelas montanhas, em esportes pelos rios e lagos ou nas escaladas mais difíceis.

Desde 1953, quando pela primeira vez um homem conseguiu chegar ao pico do Everest, milhares de pessoas alimentam o mesmo sonho e pagam muito caro para realizá-lo. Caro mesmo! Só a licença, que é necessária para fazer a escalada do monte Everest, custa 50 mil dólares.

Visitar o Nepal foi uma experiência de estranhamento. A possibilidade de conviver num ambiente cultural muito diferente do nosso vale por um choque. É capaz de sacudir as nossas crenças.

Fiquei duas semanas por lá. Não posso dizer que conheci o Nepal. Se fosse para conhecer, teria de ficar anos. Fazer uma viagem de turismo é parecido com folhear as páginas de um livro. Ler o livro todo é muito diferente de apenas ciscar um pouco pra cá e pra lá. Aliás, sempre me incomoda ouvir afirmações e julgamentos sobre países e livros, depois de visitinhas rápidas – nos países ou nos livros. Ou seja, no caso do Nepal, só tenho condições de comentar aspectos que me impressionaram, nada de tirar conclusões.

Em primeiro lugar, fiquei encantada com a comida. A base da alimentação são os vegetais. eles são presença dominante em todas as refeições: do café da manhã ao jantar. Não é que as pessoas sejam vegetarianas. Acontece que dão preferência para os vegetais. O modo de prepará-los faz deles verdadeiras iguarias. A comida do Nepal foi uma boa surpresa.
Em segundo lugar, a espiritualidade impacta. Em templos e em santuários é possível ver as pessoas caminhando e rezando em todas as horas do dia. São tantos os que fazem isso e fazem com tal concentração, que perguntei para o guia o que é que as pessoas tanto pedem nas orações. Na base da minha pergunta estava, claro, um tipo de entendimento sobre oração. Olhando o ambiente de pobreza em que a maioria vive, me pareceu fácil pensar que as pessoas rezassem para melhorar de vida. Recebi a resposta do guia como uma chapuletada. Ele disse que as pessoas rezam para sentir que vão conseguindo se tornar melhores.

Ou seja, lá a pessoa reza para ser alguém melhor.

Texto por Ivete Kist, professora e escritora

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