Ontem foi meu aniversário. Aproveitando as reflexões que a data traz, escolhi falar aqui sobre envelhecer, um tema do qual costumamos fugir, mas que acaba nos pegando em algum momento. Tentamos frear a passagem do tempo de inúmeras formas, porque não lidamos bem com isso.
Freud disse que um dos maiores medos do ser humano é ver o seu próprio corpo definhar e lhe trazer a infelicidade e o sofrimento. Some-se a esse sentimento individual a maneira como o social – pelo menos no mundo ocidental – trata a velhice, e temos a justificativa para tamanho receio, pra não dizer pavor (que é o que alguns sentem).
Recentemente, participei de um curso com a médica geriatra Ana Cláudia Quintana Arantes, que é especialista nesse tema e autora de alguns livros bem conhecidos, como “A morte é um dia que vale a pena viver”. Ela faz um exercício muito interessante com os participantes das palestras e cursos. É mais ou menos assim.
Vamos supor que todos aqui tem 30 anos de idade. Combinamos que vamos nos encontrar novamente daqui a 30 anos, no aeroporto, para pegarmos um avião e ir morar no Deserto do Saara. A única maneira de alguém escolher não ir com o grupo é morrer antes disso. Passados os 30 anos, nos encontramos e viajamos. Chegando no deserto, alguns dirão que é quente demais, que não levaram protetor solar ou roupa adequada; outros serão pegos de surpresa pelo frio à noite, e outros pelo tipo de comida que terão à disposição. Então ela questiona: vocês tiveram 30 anos para descobrir como era a vida no deserto e se preparar e não o fizeram? Deixar para descobrir como é só na hora de desembarcar é ingenuidade ou incompetência.
Olhar para nosso corpo envelhecendo, encarar seu declínio e se preparar para essa fase da vida não fará com que ela chegue mais rápido. O máximo que pode acontecer é a gente estar mais equipado física e mentalmente, e conseguir fazer da velhice o melhor possível dentro daquilo que ela nos reservar.
Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga
