“Comprei um planner e me arrumei uma crise existencial”

Sonhar e planejar é saudável, o problema disso é quando nos direcionamos ao extremo, com uma vida rígida e excessivamente calculada


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Foto: Pixabay

No ano que passou, usei a agenda do celular para anotar meus compromissos pessoais e profissionais. Mas para este ano que começou, resolvi que voltaria a ter um caderno para registrar no papel. Então fui até uma loja e me deparei com a imensa variedade de planners à disposição, que são esses cadernos que servem para planejar o ano. Dei uma olhada rápida entre as opções e escolhi um que pareceu atender minha necessidade.

Levei pra casa e quando abri a primeira página, aquela dos dados pessoais, já me deparei com questões mais profundas. Logo abaixo do nome, ele perguntava “quem eu sou”. Ao lado, “sonhos para 2023”, nas páginas seguintes, havia “controle financeiro”, “quero comprar e preciso comprar”, interesses pessoais, foco, projetos, saúde e, por fim, uma página reservada para eu escrever uma carta para mim. “Que coisas você tem a dizer para quem você é hoje ou para quem você pretende se tornar?”

Uau! Onde eu fui me meter? Comprei um planner e me arrumei uma crise existencial. Antes tivesse optado pela velha e boa agenda, que só traz os dias e horários.

Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga (Foto: Divulgação)

A situação me fez pensar em várias coisas. Uma delas é que, não por acaso, o planner representa um pouco do que vivemos hoje, com uma pressão extrema de todos os lados para sabermos quem somos, o que queremos e para onde vamos, o que transmite uma ideia de que temos o controle total sobre nossas vidas. Sonhar e planejar é saudável, o problema disso é quando nos direcionamos ao extremo, com uma vida rígida e excessivamente calculada, sem espaço para surpresas. Por outro lado, se entregar à ideia de que o destino se encarrega e do “deixa a vida me levar” também pode significar uma dificuldade de se responsabilizar pela parte que nos cabe.

Responder às questões do meu planner pode parecer um tanto simples se escolhemos olhar pelo lado objetivo. Mas o fato é que, assim como ocorre com a passagem do ano, que gera reflexões mais profundas na maioria das pessoas, quando a gente para pra pensar e precisa escolher as palavras que tentarão dar alguma definição a questões tão amplas, logo se vê que o buraco é bem mais embaixo.

Se você abrir um caderno desses, pode optar por simplesmente fechá-lo, mas é provável que as perguntas fiquem ressoando em sua mente, o que pode ser interessante. Às vezes, depois de folhear uma página, abrir uma porta, não dá pra voltar atrás. Então, quem é você? O que quer para 2023? E o que vai fazer para conseguir isso?

Texto por Tamara Bischoff, jornalista e psicóloga

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